Pouco se estudava o livro didático
até a década de 80. A expansão do ensino público
e a distribuição gratuita deste material, no entanto,
parecem ter chamado mais atenção ao tema em tempos
recentes.
No ensino de ciências, o livro
tem sido apoio fundamental do professor, que por vezes acaba se
tornando dependente devido à dificuldade em obter uma boa
formação ou atualização. Sua qualidade
tem sido assegurada por políticas do MEC (Ministério da
Educação e Cultura) e sua difusão tem
contrariado especialistas que afirmavam seu descarte progressivo.
A história do livro didático
é permeada por muitas críticas. Afirma-se que este pode
prejudicar o potencial de curiosidade do aluno, que alguns textos
apresentam valores incompatíveis com um plano de sociedade
justa e democrática, que pode causar dependência no
professor e, no passado, era possível encontrar até
mesmo textos religiosos em seu conteúdo. Ainda assim, tem
conquistado um espaço considerável na atenção
do aluno do ensino médio, competindo com mídias de
massa e outros ecossistemas de educação científica.
Após as visitas nas escolas
públicas de Rio Claro e entrevistas com professores de
biologia para o Ensino Médio, foi feita uma compilação
de toda a informação coletada tanto em campo como no
material analisado e os resultados foram agrupados num relatório
bastante extenso.
O livro didático esteve
presente na totalidade das escolas onde há Ensino Médio,
acompanhado em 9 entre 10 escolas por algum tipo de apoio midiático.
É interessante frisar que entre os materiais de mídia
utilizados pelos professores, houve preferência clara por
alguns veículos, e estes também foram levantados e
fichados pra uma posterior análise e comparação
de seus conteúdos com os conteúdos oferecidos nos
manuais escolares.
A partir destes dados levantamos
algumas reflexões que irão guiar nossa investigação:
Quais os conceitos de ciência apresentados pelo livro didático?
Eles convergem ou divergem dos conceitos apresentados por meios
não-formais de divulgação científica?
Estariam estes textos apresentando preocupação com a
inclusão social ou reforçando estereótipos e
preconceitos raciais e sociais? A ciência aparece sob uma
perspectiva mitificada? É possível que visões
distorcidas de ciência criem desinteresse ou rejeição
de estudantes e se convertam em obstáculos para a
aprendizagem?
Diversos autores afirmam a dificuldade
de se estabelecer uma "imagem correta" da atividade
científica, por conta da constante confusão entre os
conceitos de ciência e tecnologia. Se considerarmos que o livro
didático está tão presente em sala de aula e é
tão freqüentemente associado a outros meio de mídia
(outros materiais de transmissão e divulgação do
conhecimento científico), é importante descobrir até
que ponto as informações que chegam ao estudante estão
em consonância, propiciando um aprendizado mais rico, ou em
choque, o que poderia trazer dificuldades à aprendizagem de
ciências.