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ARTIGOS: Alimentação




O espirro: Responsabilidades éticas na alimentação

Comer ou não comer carne? A resposta para essa pergunta pode ser simples: sim ou não. Mas os “porquês” que envolvem essas respostas nos cobram discussões que normalmente são repletas de argumentos de ambos os lados.

O vegetarianismo é um regime alimentar, onde seus adeptos não ingerem carne, baseando sua dieta em vegetais. Existem quatro tipos básicos de vegetarianismo. O ovo-lactovegetarianismo, onde apesar do não consumo de carne consome-se ovo, leite e derivados; o lactovegetarismo, onde exclui-se a carne e os ovos da alimentação; o vegetarianismo estrito, que exclui da alimentação qualquer tipo de carne; e o veganismo, sendo o tipo mais “extremo” de vegetarianismo, pois como o tipo anterior é estrito quanto à alimentação mas também exclui o uso de qualquer coisa de origem animal, bem como produtos testados em animais.

Exatamente, uma das questões a serem abordadas quanto à alimentação no campo do vegetarianismo está relacionada à saúdee apresenta pontos positivos – baixa ingestão de gordura saturada e colesterol, fornecendo diversos benefícios nutricionais. As dietas vegetarianas são bastante saudáveis quando seguidas de forma apropriada; auxiliam na prevenção e no tratamento de certas doenças – e pontos negativos – menor ingestão de vitamina B12 (que pode causar anemia e danos ao sistema nervoso), vitamina D, cálcio, selênio, iodo, ferro, zinco e proteínas.

Outra questão, ainda quanto à saúde, que deve ser observada é a qualidade dos alimentos ingeridos. Alguns animais criados para consumo humano são alimentados com uma quantidade significativa de hormônios de crescimento e antibióticos para resistirem às doenças; também a poluição dos mares e rios pode tornar a carne de peixe igualmente insegura. Por ouro lado, com os vegetais, frutas, verduras e legumes também há a preocupação com a infinidade de agrotóxicos utilizados, que podem ser tão prejudiciais à saúde quanto os hormônios empregados nos animais.

Hoje em dia, há um “quase senso comum” que associa os vegetais ao que é natural e o próprio naturalismo ao vegetarianismo. Seria correto dizer que uma alface deve ser considerada mais natural que uma peça de carne? O que então seria natural? A construção de uma definição, para fins legislativos, parece demandar a segmentação dos produtos alimentares. Ou seja, produzir uma definição distinta para sucos naturais, sanduíches naturais, conservas vegetais naturais, etc. Ou uma alternativa possível seria proibir o uso da palavra nos rótulos e nas propagandas, o que talvez fosse o mais prático para resolver o impasse.Atchim!Saúde!Amém!

Entremos então na questão religiosa acerca do vegetarianismo, cujas raízes são históricas. Muitos povos da antiguidade, como os egípcios, eram essencialmente politeístas e grande parte de seus deuses eram animais. Assim como hoje, os homens utilizavam esses animais como alimento, por isso o caráter sagrado. Idolatrá-los era visto como um pedido de desculpa, de autorização ou uma compensação pela sua morte, pois tratá-los com desrespeito poderia causar a “ira dos deuses”.

Com a ramificação das religiões surgiram novos costumes relacionados à alimentação. No hinduísmo, por exemplo, o culto aos animais gerou uma cultura alimentar lacto-vegetariana. Alguns budistas defendem uma dieta vegetariana, pois são totalmente contrários a qualquer tipo de violência, incluindo a morte de animais para o consumo. Com o surgimento do monoteísmo, as devoções foram voltadas para um só deus e este, segundo a maioria das religiões monoteístas, concedeu a natureza ao homem, para usá-la a seu favor, ficando esta a mercê do ser humano, que se “aperfeiçoou” em explorá-la.

Atchim! Nossa, você precisa comprar um remédio!

O consumismo exacerbado, a exploração excessiva e um não aproveitamento máximo dos alimentos geram desperdício. Ao mesmo tempo em que se investe tanto no aumento da produtividade, com conseqüente aumento da produção global de alimentos, a fome atinge recordes no mundo todo.

O alimento utilizado na nutrição de nossas criações, rico em proteínas, é pouco aproveitado por nós ao consumirmos a carne desses animais. Essas mesmas proteínas poderiam estar sendo utilizadas para saciar a fome de pessoas em outro lugar do mundo, já que seu custo é baixo.

Para se ter idéia da dimensão do desperdício, no Brasil as que ocorrem em produtos agrícolas chegam a equivaler 7,8% do produto interno bruto brasileiro. Esse dinheiro seria suficiente para fornecer cestas básicas mensais no valor de R$120,00 a quase sete milhões de famílias durante um ano (CEAGESP, 1999)Atchim! Poxa vida! Esses seus espirros já passaram dos limites! Que falta de educação!

Pensando em educação e moralidade e levando-se em conta o termo “ética”, com seu significado e suas aplicações nas mais diversas questões, um dos motivos que leva cada vez mais pessoas a serem adeptas ao vegetarianismo está ligado ao respeito pelos animais e também ao possível não cumprimento das normas de criação e abate dos animais.

Tradicionalmente, os conceitos morais limitaram os direitos aos seres humanos. Porém, uma questão foi levantada: o ser humano é o único animal capaz de sentir dor, prazer, emoções e outras sensações, ou seja, é o único senciente? Se a resposta a essa pergunta for negativa, não seria uma justificativa para que os direitos, até então limitados ao ser humano, fossem estendidos a todos os animais?

Em uma tentativa de solucionar os problemas que essas indagações trouxeram à tona, foram criadas normas nas quais o principal fator levado em conta é o bem-estar animal, que dentro de abatedouros e granjas, por exemplo, abrangem fatores ligados ao dinheiro empregado, à higiene, segurança no trabalho e às implicações na qualidade do produto final. Porém, esse bem-estar animal teria a mesma conotação de bem-estar humano?

Questionamentos como esses devem ser feitos. Como a alimentação pode ser algo tão habitual, tão corriqueiro, acabamos por fazê-la “automaticamente” na nossa vida. Mas será que paramos para refletir a respeito dela? Com isso, a proposta desse texto de promover uma discussão importante, tendo por início um espirro, faz com que, de forma cômica, possamos ser mais críticos, mais atentos com o que ingerimos – desde saúde ou religião até evitar o desperdício, ou ainda por zelo aos animais –, associando a algo insignificante, no entanto muito filosófico! Atchim!

Ricardo Matheus Pires, Thamilin Barão Silva, Thalles Vassão Braga Ribeiro, Vanessa Jó Girão, Vinícius Simões de Almeida Loredam.







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