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ARTIGOS: Educação




Uso de Animais como Recurso Didático no Ensino Superior

Antigamente, o uso de animais para fins educacionais era tido como complementação de estudos médicos em substituição a cadáveres, por causa de sua difícil aquisição. Galeno, médico grego, usava animais para formular seus modelos sobre anatomia, que se mostraram errôneos com a volta da utilização de cadáveres.

As opiniões a respeito do uso de animais na educação variam desde os que acreditam que tal uso seja aceitável aos que acreditam que animais devem ser tratados em igualdade ao ser humano. A questão é fortemente política e ideológica.

Existem muitas razões para se posicionar contra a dissecção. Avanços na tecnologia informática, juntamente com os novos e sofisticados modelos gráficos e anatômicos, tornam a dissecção uma prática cada vez mais desnecessária.

Singer formula seu princípio de igual consideração de interesses, no qual expande para outros seres os interesses humanos, como alimentar-se e curar-se. Para ele, o fundamento para tal princípio é a capacidade encontrada tanto em animais humanos como em não-humanos: a capacidade de sofrer. A propria legislação federal possui mecanismos de defesa aos animais utilizados para fins didáticos e até científicos.

Tirar a vida de animais para observação ou aquisição de conhecimentos já sabidos pode expor o estudante a contradições sérias. Para Lock e Millett, “a educação deve capacitar os estudantes a expressar seus pontos de vista e oferecer a habilidade de selecionar as evidências que necessitem para sustentar seus argumentos”.

A importância de se oferecer métodos alternativos é deixar o aluno poder participar na prática das decisões da bioética. Os educadores devem encorajar seus estudantes a pensar sobre suas perspectivas filosóficas em relação aos animais. Portanto, a utilização de animais para fins didáticos nos traz uma lacuna no bojo moral e ético, onde a ciência se coloca acima dessas questões e defende uma postura de desvalorização da vida de outras espécies em relação à do ser humano

Esta falta de reflexão sobre os aspectos morais e éticos no ensino se reflete nas decisões que aquele aluno, anos mais tarde, pode tomar como cientista. Estudos mostram que alunos que foram submetidos a uso de animais em que este é prejudicado (dissecção e vivissecção) tendem a tornar-se mais insensíveis.

Quanto à didática e a experiência de aprendizagem, para alunos que não se encaixam no perfil acima, a prática pode ser pouco válida, pois suas contestações éticas não lhes permitem ter um bom aprendizado. Segundo relatos colhidos por Thales Tréz em sua monografia, alguns experimentos não funcionaram e os alunos queriam terminá-lo o mais breve possível.

Há muitos estudos acadêmicos que comprovam que em relação ao desempenho acadêmico, os alunos aprendem igualmente, ou em alguns casos aprendem ainda mais com os métodos alternativos, o que nos mostra que em termos de qualidade e profundidade da educação, o uso de animais é contestável.

Muitos alunos não têm opção diante do uso de animais em suas aulas e muito menos espaço para se negar a fazê-lo e quando o fazem sofrem penalidades. Esta descriminação é uma infração contra a liberdade civil, todo aluno tem o direito de não participar de atividades com o uso abusivo de animais e tem o direito ao acesso de alternativas pedagógicas reconhecidas.

É sabido que cursos de Ciências da Saúde e Biológicas utilizam-se de animais e isso causa uma perda significante de profissionais quando estudantes decidem não ingressar nesses cursos, ou mesmo desistir, por não concordarem com esse método.É ruim para a ciência em geral e para a pesquisa humanitária, pois discrimina bons cientistas: aqueles preparados a pensar criticamente, familiarizados com os métodos alternativos e sua eficácia.

A Humane Society of the United States (HSUS) e outros grupos fizeram estudos e comprovaram que a utilização de métodos alternativos tem custos menores, apesar de apresentarem um alto custo em sua implementação. Em longo prazo, são consideravelmente mais baratos se comparados aos gastos com manutenção regular de animais em biotérios como cuidados, alimentação, instalações, etc., além de pessoal especializado como técnicos e veterinários

As cargas horárias de cada disciplina para seus responsáveis nunca possuem um tempo ideal para realizar todas as aulas que esses acreditam indispensáveis. Nesse sentido as técnicas alternativas economizam tempo. Além disso, simulações interativas permitem que o estudante volte atrás em algum passo ou estágio do experimento, o que não é possível em experimentos in vivo. Cada estudante pode, desta forma, aprender de acordo com seu ritmo, e repetir todo o experimento, se necessário, até mesmo em casa. Além disso, as alternativas possuem um tempo de vida muito maior, não sendo descartadas como os animais utilizados.

Muitas universidades no mundo vêm substituindo o uso de animais e oferecendo alternativas aos estudantes, respeitando os princípios éticos, morais ou religiosos de alunos que se opõem ao uso de animais para estas finalidades. As experiências destas universidades comprovam que a aplicação de alternativas é possível e viável. Dessa forma as Instituições de Ensino Superior devem promover a discussão sobre o uso de animais como recurso didático em vários aspectos, principalmente moral e ético, disponibilizando os métodos tradicionais e os métodos alternativos, não valorizando apenas o ensino de informação, mas o ensino à reflexão, raciocínio e a tomada de decisões.

Bianca Rolim de Arruda Rocha (5º ano), Bruno Garcia Piato (2º ano), Lais Samira Correia Nunes (2º ano), Luciana Eugênio de Barcelos (3º ano), Olívia Suzuki de Carvalho (4º ano), Yasmin Alexandra de Sales Teles da Fonseca (2º ano) – Ciências Biológicas







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