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ARTIGOS: Biotecnologia




Engenharia Genética e Implicações Bioéticas

A engenharia genética é um conjunto de processos que permitem a manipulação, identificação e multiplicação de genes em um organismo, o que envolve a capacidade da modificação de qualquer DNA – o ácido desoxirribonucléico – presente na maioria das células vivas. A partir do surgimento desta ciência, os cientistas passaram a definir a vida utilizando apenas esta molécula (DNA), a partir de então “manipulável”.

Testes de engenharia genética chegaram a testar o cruzamento de genes – hibridização – a partir da fecundação de óvulos com espermatozóides entre espécies diferentes, como o homem e o chimpanzé; no entanto, o óvulo fecundado não chegou a ser implantado para o desenvolvimento do embrião.

Estudos talvez permitam, no futuro, a criação de mecanismos que silenciem ou descartem genes que codificam uma doença. Estes testes de “saúde” poderão, quem sabe, ser utilizados para prevenção em uma gravidez, por exemplo: os pais seriam anteriormente preparados para a recepção de um filho doente, podendo optar, nos contextos possíveis, por abortar um feto que teria seu desenvolvimento prejudicado.

Em seu livro “Engenharia Genética: o sétimo dia da criação”, Fátima Oliveira afirma que as manipulações genéticas e seus produtos já existem, e mostra que esta engenharia, ao manipular o DNA e modificar o código da vida, se impõe com poderes mágicos e sedutores.

Ao relembrarmos os princípios de John Locke, Kant e John Stuart, sobre a autodeterminação – a autonomia do ser humano sobre si próprio, seu corpo e mente – podemos fazer uma analogia com o código genético: como propriedade individual, este indivíduo e somente ele, seria responsável pela escolha na modificação dos genes, decisão que poderia acarretar em uma mudança no curso natural da vida.

Lucien Sfez, professor de Ciências Políticas da Universidade de Paris I, alerta para o risco de essas manipulações poderem transformar a espécie humana em “desconhecida, monstruosa, anormal”. Esta ideia de suscetibilidade ainda levantou outras afirmações, como a de Joaquim Clotet, professor de Bioética da Pontifica Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, de que “o genoma (código genético, DNA), ainda que propriedade de cada um, é componente de um patrimônio de toda a humanidade, já que o indivíduo está nela inserido”. Uma manipulação no genoma do indivíduo traria efeitos sobre seus descendentes e, conseqüentemente, sobre a humanidade.

Dentro de uma sociedade, a criação do código genético de um ser humano traz mais uma vez à tona, também, a discussão da eugenia – criar alguém como “bem-nascido” – prática que foi comum durante o nazismo. Bebês geneticamente “planejados” in vitro teriam seus genes alterados, a fim de retirar-lhes os causadores de doenças ou selecionar a ele as melhores condições físicas e mentais. Seguindo o raciocínio de preservação dos “bem-nascidos”, o padrão especificado pela sociedade (embrião alterado) seria mantido e os não utilizados seriam descartados.

E os poucos embriões que nascessem pela maneira convencional? Seriam eles considerados “inválidos”, já que apresentariam todos o histórico de doenças e problemas, não eliminados pela manipulação do DNA?

Atualmente, já existem testes genéticos capazes de prever a chance de certas doenças graves se manifestarem, e futuramente, a engenharia genética pode se desenvolver até que seja possível prevenir o aparecimento de certas doenças ou mesmo erradicá-las do genoma de nossos filhos (o que já ocorre com doenças ligadas ao cromossomo X, através da reprodução assistida).

Do mesmo modo, com o avanço da engenharia genética, talvez seja possível controlar as características codificadas pelos genes, podendo assim gerar indivíduos com características pré-determinadas como, por exemplo, pigmentação da pele, dos olhos e, quem sabe, até a inteligência.

Porém, a grande questão é: se pudermos manipular nossos genes para evitar doenças e outros problemas genéticos, o que evitará a manipulação de todas as outras características, simplesmente por conveniência e beleza?

Será isso, então, uma nova evolução da espécie humana, em que ela atua mais como um fator selecionador, do que como um indivíduo selecionado, gerando descendentes “perfeitos”, com as características mais desejáveis, elevando a humanidade a um estado evolucionário ainda mais superior? Ou estaremos transformando nossos filhos em nada mais que produtos, com características mais agradáveis a nós e à sociedade, criando uma nova forma de preconceito com os que não tem acesso a tal tecnologia ou mesmo não desejam se utilizar dela?

Será também que nossa humanidade, nossa identidade, nossa singularidade, não são resultados do acaso genético, do imprevisto, e a partir do momento que passamos a manipular os genes visando às características que eles codificarão, não estaremos “silenciando” o acaso e, por conseqüência, a nossa identidade e singularidade?

Aline Batista Ferraz, Amanda Alfonso Batista, Isabele Fattore Moretti, Lucas Gomes Martins, Rafael Henrique de Souza Zanetti – 2º ano de Ciências Biológicas







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