Jornal Biosferas

Brand


ARTIGOS: Biotecnologia




Corantes da Indústria Têxtil: Impactos e Soluções

O desenvolvimento da atividade industrial resultou em uma série de produtos de primeira necessidade que fizeram essencial o seu papel na sociedade atual. Dentre os processos industriais está a indústria têxtil e seus métodos de tingimento utilizando uma variedade de corantes.

A utilização de corantes é milenar, desde os primórdios das civilizações. Eram predominantemente de origem natural, provenientes de vegetais, moluscos e minerais. Pela sua própria natureza, são facilmente detectados a olho nu, sendo visíveis em concentrações muito baixas. Podendo, portanto, por menor que seja a quantidade, causar drásticas mudanças de coloração nas águas.

Com a extensiva utilização de corantes reativos pelas indústrias têxteis, ocorre contaminação de grande número de efluentes durante os processos de tingimento por uma série de contaminantes - incluindo ácidos ou compostos alcalinos, sólidos solúveis e compostos tóxicos - apresentando-se fortemente coloridos. A remoção desses corantes é um dos maiores problemas enfrentados pela indústria atualmente, já que estes impedem a passagem da radiação solar afetando os seres vivos que habitam estes ecossistemas aquáticos.

Do ponto de vista toxicológico, devido à sua alta solubilidade em água, os corantes têxteis podem ser absorvidos por vários organismos. Assim como reagem com fibras naturais podem reagir com proteínas e a celulose nos vegetais, além de promoverem alterações na atividade fotossintética destes nos sistemas aquáticos. Apesar de pouco difundidas as informações sobre os riscos da contaminação por corantes e o impacto causado pelos seus rejeitos na qualidade da água, sabe-se que esses compostos podem permanecer por cerca de 50 anos nos ecossistemas terrestres e aquáticos, pondo em risco sua estabilidade.

A busca por meios de remoção destes corantes tem se tornado bastante atraente no Brasil devido ao desenvolvimento do setor agroindustrial. Dentre os processos utilizados, a adsorção, considerada superior a outras técnicas, é a mais praticada no setor industrial. Esta técnica envolve a retenção de um fluído (adsorvido), no caso o corante, por uma superfície sólida (adsorvente). A grande vantagem deste processo é a possibilidade de recuperação do corante concentrado e a reutilização do adsorvente no processo.

A adsorção pode ser realizada através de compostos naturais ou sintéticos. Um dos compostos mais usados é o carvão ativado. Que apresenta inúmeras desvantagens, tais como alto custo, ineficiência com alguns tipos de corantes e processos de regeneração. Na tentativa de substituir o carvão ativado, procura-se por outros adsorventes constituídos de materiais sólidos, preferencialmente naturais; que devem estar em abundância na natureza e se possível, provenientes de resíduos agrícolas ou industriais para baratear o custo das técnicas de adsorção.

Um dos materiais propostos pelo departamento de Bioquímica e Microbiologia da UNESP - Rio Claro é o bagaço de cana-de-açúcar. Já que esta monocultura apresenta 5,4 milhões de hectares cultivados, sendo o Brasil considerado o maior produtor e potencial de expansão em área plantada do mundo. Em alguns testes realizados, 10mg de bagaço removeram aproximadamente 50mg de corante. Verificando-se também que os sistemas de agitação tornam os processos de remoção mais eficientes.

Grande parte do bagaço nas usinas de açúcar é utilizada para geração de energia da própria usina e o excedente vendido para a comunidade local. Porém a geração dessa energia se dá pela queima, gerando uma grande quantidade de CO2 na atmosfera. Para a indústria têxtil, a compra do bagaço adsorção é bastante viável, pois o resíduo possui um preço relativamente baixo. Após a remoção de corantes no tratamento do efluente têxtil, o bagaço com as partículas de corante ainda poderia ser usado para produção energética. Mas cabe destacar que novos estudos devem ser apresentados verificando todos os compostos que resultam da queima destes materiais.

Eduardo K. Mitter – pós-graduação em Microbiologia, UNESP







Nos encontre nas redes sociais: