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ARTIGOS: Drogas e fármacos




Albert Hofmann e o LSD: De “Criança Prodígio” a “Criança Problema”.

O uso de substâncias provindas de plantas para fins terapêuticos é uma prática comum, e de grande interesse em diversas áreas de pesquisa. Botânicos, médicos e farmacêuticos, entre outros profissionais, estão em uma constante busca para encontrar, nas plantas, a cura de muitas das doenças que assolam a humanidade. Mais importante do que conseguir encontrá-las é conseguir sintetizá-las, ou seja, conseguir reproduzir artificialmente as substâncias ativas das plantas de interesse, a fim de possibilitar uma produção em alta escala do composto. Além disso, a síntese laboratorial exclui a necessidade de se ter a matéria prima, no caso, a planta, ao alcance.

A década de trinta foi marcada, no campo das pesquisas farmacológicas, pela busca de métodos que possibilitassem a síntese de alcalóides de cravagem (reação biológica em vegetais causada por fungos) natural. Os alcalóides são substâncias orgânicas cíclicas, cujas moléculas apresentam um tipo de conformação raramente encontrada nos seres vivos. Os de origem vegetal, em geral, apresentam ação biológica marcante, como por exemplo a cafeína, a morfina, a cocaína e a nicotina. Há um grande interesse médico pelos alcalóides naturais, devido às ações biológicas deles. A ergometrina, conhecido alcalóide da cravagem do centeio, apresenta propriedades amplamente utilizadas na medicina para estancar hemorragias uterinas. Sua fórmula foi primeiramente sintetizada pelo químico suíço Albert Hofmann, em meados dos anos 30. Naquela época, Hofmann procurava desenvolver um fármaco estimulante do sistema nervoso central que atuasse nos sistemas circulatório e respiratório. Em 1938, durante suas pesquisas, o químico, de alguma maneira, entrou em contato com uma das substâncias com as quais estava trabalhando, e esta lhe causou reações jamais experimentadas anteriormente.

“Ao final do procedimento, algo muito estranho ocorreu. Eu me senti como se estivesse em um sonho, tudo ao meu redor estava se transformando. Minha experiência de realidade havia mudado, e era mais agradável. De qualquer forma, saí do laboratório, fui para casa, deitei-me, aproveitei a boa sensação que aquele estado onírico me proporcionou, e depois tudo passou.”

Intrigado, Hofmann quis descobrir o que exatamente havia sido o responsável por aquela sensação. A princípio, desconfiou do solvente à base de clorofórmio que utilizava, porém a hipótese logo fora descartada. Desconfiou, então, se tratar de algum dos componentes da ergometrina que estava processando, e resolveu realizar alguns testes. Iniciou ingerindo uma dose que considerava baixa, 0.25 mg do alcalóide, afim de evitar intoxicação. O propósito era ir aumentando a dosagem gradativamente até que aquelas sensações viessem à tona, se viessem. Para sua surpresa, aquela primeira dose inicial de 0.25 mg surtiu efeito.

“Eu entrei em um estranho estado de consciência. Tudo ao meu redor mudara – as cores, as formas, e também minha percepção do meu próprio ego havia mudado. Era muito estranho! Fiquei muito ansioso, achando que havia ingerido muito, então pedi que meu assistente me acompanhasse até em casa. Naquele tempo, não tínhamos carro, e nós fomos para casa de bicicleta. Durante essa viagem de bicicleta – eram aproximadamente quatro quilômetros – eu tive a sensação de que não podia me mover do lugar. Eu estava pedalando, pedalando, mas o tempo parecia ter parado.”

Assim, acidentalmente, Hofmann havia realizado uma de suas mais polêmicas descobertas: o LSD. A ergometrina que estava sendo utilizada mostrou-se uma amida do ácido lisérgico, e era esta a substância ativa causadora daquelas intrigantes sensações.

“Eu soube imediatamente que aquela droga poderia ter importância para a psiquiatria! Mas, ao mesmo tempo, eu nunca iria acreditar que esta substância poderia ser usada no cenário das drogas, apenas por prazer. Para mim, fora uma profunda e mística experiência, e não apenas um divertimento diário. Eu nunca tive a desconfiança de que seria usada como uma droga recreativa. Então, logo depois de minha experiência, o LSD caiu nas mãos dos psiquiatras.”

Os psiquiatras, no entanto, não acharam que o novo composto teria grandes utilidades, e o LSD logo foi descartado pelas empresas farmacêuticas. Dr. Hofmann continuou por um tempo fazendo testes com o LSD, pois acreditava que haveria alguma utilidade para ele. Não demorou muito, a droga chegou aos Estados Unidos e outros países, ganhando o mundo. Na década de 60, o LSD se tornou a droga de abuso número um nos EUA, sendo utilizada em ampla escala pelos jovens, artistas e hippies. Para Hofmann, as pessoas não estavam preparadas para a profunda transformação que o LSD causava, e então muitas coisas começaram a ocorrer, conseqüências do abuso da droga. Assim, o LSD foi proibido.

“Então todo o tipo de coisas aconteceram, o que tornaram o LSD uma droga infame. Foram tempos conturbados! Telefonemas, pânico e alarme! Isto aconteceu, aquilo aconteceu… foi um colapso! Ao invés de “criança prodígio”, LSD de repente se tornou minha “criança problema”.

Albert Hofmann ficou profundamente aborrecido com os acontecimentos e chegou a colocar o LSD como algo de caráter sagrado, místico, espiritual. Ele acreditava que, por ter sido utilizado sem a finalidade espiritual no cenário das drogas, houve uma profanação. E esta profanação seria a causa das graves conseqüências que ocorreram naquela época.

“De muitas maneiras, (o LSD) realmente provoca medo e deletério, ao invés de efeitos benéficos, por causa do mal uso, porque era profanação. Deveria ter sido tratado com os mesmos tabus e a mesma reverência que os indianos têm em relação a estas substâncias. Se isto tivesse ocorrido com o LSD,

Mariana Gabriela Fonseca – 4º ano de Ciências Biológicas







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