Jornal Biosferas

Brand


ARTIGOS: Filosofia da Ciência




Vida Sintética: Implicações, Perspectivas e Reflexões.

Uma das tarefas mais antigas e complexas destinadas à Ciência da Biologia é a definição do que é vida. Apesar das diversas tentativas, não se têm, ainda, um consenso a respeito desse desafio epistemológico. O quadro mundial tem apontado para um novo ramo dentro das pesquisas biológicas: a criação de vidas sintéticas. É curioso e contraditório pensar que cientistas se concentram nessa novidade, e nela são capazes de visualizar o futuro, sem antes serem convictos de uma conceituação a respeito dos mistérios que permeiam o significado da vida.

A discussão sobre o que é vida se baseia em três eixos principais: os organismos vivos devem possuir a capacidade de se reproduzir, evoluir e ter um metabolismo próprio. Ora, uma pessoa que não seja capaz de se reproduzir não está viva? Ou ainda, a seleção natural é critério excludente e único para se definir um ser vivo? Contudo, é unânime a prerrogativa da necessidade de existência de um metabolismo próprio para que o organismo esteja vivo, e é nesse contexto que a biologia sintética tem sustentado sua visão na potencial criação de novas vidas.

A biologia sintética tem por objetivo a criação de organismos geneticamente modificados ou construídos totalmente em laboratórios. Hoje, depara-se com a possibilidade do surgimento de novos organismos biológicos, a partir de manipulações genéticas feitas pelo homem, desenvolvidas por meio de técnicas que realizam o seqüenciamento, extração e recombinação de DNA, o isolamento de genes e o controle da expressão gênica. Essa reprodução de sistemas vivos já é vislumbrada para potencializar a produção de fármacos, alimentos, energia e informações. Apesar da velocidade dessas descobertas e sua complexidade nunca terem sido tão expressivas como atualmente, esse campo ainda é muito recente, o que de súbito preocupa tanto os próprios cientistas quanto religiosos e filósofos sócio-políticos, que não sabem o que essas novidades poderão acarretar.

Assim sendo, discute-se a necessidade da existência de um código de leis e normas que regulamentem os processos e meios nos quais essas pesquisas e avanços serão feitos, levando em consideração noções de biossegurança e, principalmente, bioéticas. Em uma visão ampla, a maior parte das instituições que manipulam essa tecnologia é de origem privada, e pouco ou nada se sabe a respeito do que vem sendo realizado, bem como as ambições de cada uma delas. Isso reforça a importância de se estabelecer um regulamento único, nas mais diversas partes do mundo. É perceptível a autoridade de presença do biólogo atuando nesse processo, já que ele é capaz de acompanhar o desenvolvimento desses organismos sintéticos, avaliando os riscos que sua implantação pode ter sobre o ambiente e a natureza, dirigindo, assim, os métodos nos quais serão feitos.

Ao longo da história, cientistas foram muito criticados pelo fato de explorarem áreas desconhecidas, o que causava inúmeras vezes medo e também confrontos com conceitos pré-existentes. Apesar do ramo da biologia sintética também ser uma dessas áreas que trazem ruptura ao pensamento biológico, a sua utilização pode trazer vários benefícios, tais como a criação de organismos capazes de, por exemplo, sintetizar enzimas que degradem plástico, um dos maiores causadores da poluição; de microorganismos que, a partir da energia solar possam representar novos meios de obtenção de biocombustíveis; a descoberta e produção de novas vacinas; e até mesmo a produção de tecidos sintéticos que se constituirão em órgãos capazes de serem utilizados em transplantes.

Um dos acontecimentos mais recentes a respeito do assunto foi a “criação” de uma célula bacteriana em laboratório, pelo cientista Craig Venter. A experiência atual consistiu no seqüenciamento do genoma da bactéria do gênero Mycoplasma por um programa de computador. A seqüência sintética foi introduzida em uma bactéria cujo DNA inicial foi removido, e esta passou a obedecer aos mesmos comandos do antigo genoma. Esta notícia foi recebida com otimismo pela comunidade científica, que já enxerga o futuro promissor que essas experiências podem trazer para a ciência.

Em contrapartida, outros integrantes da academia científica revelam sua preocupação diante desses fatos, uma vez que não se sabe qual será o comportamento desses organismos criados sinteticamente quando estes forem introduzidos no meio ambiente; qual a relação que eles estabeleceriam; que desequilíbrios ecológicos poderiam acarretar e, ainda, como os fatores ambientais poderiam alterá-los, na geração de descendentes.
Outro ponto a ser considerado é a visão religiosa. Atualmente, a Igreja observa a ciência com grande interesse, mas contesta essa inovação partindo do argumento sobre o real significado que deve ser dado à vida, ressaltando para a responsabilidade ética do progresso e de como será aplicada no futuro. É necessário que a comunidade científica reconheça que a ética, mais do que nunca, tem de ser uma aliada a esses avanços, já que se não levada em consideração pode acarretar em problemas os quais beiram a irreversibilidade. Além disso, a Biologia não pode se desvencilhar da sua essência, que é o estudo da vida e para a vida, devendo sempre atentar para as necessidades sociais e do meio, não sobrepondo suas próprias vontades e anseios àquelas do bem comum.

Abigail Savietto, Jussara Nascimento Chaves, Laryssa Sakayanagi Teixeira, Letícia Gomes de Souza e Paula Maldonado Rabelo – Segundo ano de Ciências Biológicas







Nos encontre nas redes sociais: