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ARTIGOS: Filosofia da Ciência




Definindo Vida

O texto a seguir é baseado na obra “O que é vida?”, capítulo “Definindo vida”. Nem sempre foi necessária a definição do que é vida, pois para as pesquisas experimentais essa definição não teria muita utilidade; sempre foi muito fácil distinguir o vivo do morto. Porém, para a biologia teórica e para a biologia como ciência – ciência que estuda a vida – há a necessidade dessa definição. Se a biologia é mesmo autônoma com relação a outras ciências, deve ser capaz de caracterizar os sistemas que toma como objeto de estudo. No entanto, o autor não deixa de nos lembrar como é difícil a definição da palavra vida. É fato que um termo que inclui uma quantidade e diversidade de fenômenos tão grande não teria como possuir uma definição muito precisa. As definições propostas, sem muito rigor, para termos gerais – como vida, mente consciência, matéria – são chamadas ontodefinições. Este termo foi criado para designar definições que se encontram embutidas nos paradigmas científicos – tão naturalmente que podem não ser consideradas importantes.

Não é possível definir a palavra vida; entretanto, o “processo da vida” sim, uma vez que organismos vivos possuem certos atributos que não são encontrados em objetos inanimados. Essa afirmação pode ser vista como uma redundância, já que parece muito óbvia; no entanto, podemos perceber como é complicada esta outra definição. Mayr apresenta uma lista com oito propriedades definidoras do processo de vida, a qual inclui: complexidade e organização, singularidade química, qualidade, individualidade e variabilidade, presença de um programa genético, natureza histórica, seleção natural e indeterminação. Esta maneira como Mayr aborda o problema da definição de vida pode ser denominada, simplesmente, como “visão tradicional sobre a definição de vida”, a qual não pode ser explicada, principalmente, por duas suposições: 1) A vida como tal não pode ser definida; por isso, uma definição clara não é encontrada, e 2) A questão da definição de vida não é importante para a biologia. No entanto, diversos pesquisadores possuem opiniões controversas a esta, formulando novas definições de vida. Isso mostra como algumas definições nunca poderão ser alcançadas por um consenso.

No texto, vimos que as visões de definição foram mudando e evoluindo com o passar do tempo. Vimos também que a filosofia da ciência teve um papel importante na visão de significado e importância dos conceitos. No surgimento da filosofia da ciência foi necessária a presença de diversos filósofos com ideias bastante diferentes para o melhor entendimento da importância desses conceitos. Concordamos com esses filósofos quando eles afirmam que as teorias científicas são totalidades estruturadas e não coleções de sentenças, pois as diversas ciências possuem características próprias e, portanto, suas teorias também são próprias, nem sempre com sentenças que podem ser relacionadas a outras ciências. A pesquisa realizada numa dada disciplina é um paradigma, onde os conceitos são definidos em cima de outros conceitos. Podemos tomar como exemplo a definição da vida, onde seu conceito depende dos conceitos de metabolismo, reprodução, respiração, etc.

Alguns requisitos para uma definição de vida ser satisfatória são:

- Universalidade, o que compreendemos ser crucial para o termo “vida”, pois ela deve abranger todas as formas viventes, tanto deste planeta como futuras formas que possam ser descobertas;

- Coerência com os modelos científicos vigentes à época, pois sem eles a definição de vida tenderia para o senso comum e provavelmente para definições vagas e sem credibilidade, já que os métodos científicos proporcionam, através do empirismo, testes que comprovam se tal teoria está correta ou não; - Modelos propostos pela biologia, sendo ela a ciência que estuda a vida em todos os seus aspectos, sejam eles morfológicos, fisiológicos ou hereditários, têm o dever de distinguir o vivo do não vivo.

Enfim, analisando esses conceitos, percebemos que a definição de vida envolve muitos aspectos, sendo que todos eles devem ser respeitados, para que seja possível finalmente obter uma definição que seja condizente com a verdadeira, ou o mais próximo dela o possível.

Para se entender a autopoiese precisamos saber que os componentes metabólicos e o transporte dentro da célula são os pontos de partida. Autopoiese, autocriação, uma teoria da década de 60, proposta por Maturana e Varela. Carrega a idéia de que a célula é uma rede fechada e, por assim dizer, auto-suficiente. Entretanto, todo sistema vivo troca energia com o ambiente, não sendo, assim, totalmente fechada.

Um sistema não pode ser “mais ou menos” autopoiético. Na origem da Terra passamos por uma mudança de existência não autopoiética (vida química) para uma autopoiética (mundo vivo). A atopoiese vê o sistemavivo como uma máquina autopoiética. A diferença entre a máquina orgânica e a construída pelo homem é que essa não gera seus constituintes sozinha e, assim, não é autopoiética.

A vida como autopoiese” pertence a um ramo pequeno, mas importante da biologia. Os termos evolução, auto-reprodução e replicação se encaixam na teoria, cujas origens se encontram na teoria dos sistemas.

Biossemiótica é uma visão da biologia totalmente distinta para o que é vida. A vida não é apenas uma organização de moléculas, mas também possui comunicação entre elas, chamadas signos.

Há autores que são contra essa visão da biologia, pois acham que essa ciência não passa de uma “metáfora estranha”. A biologia, contudo, tem que ser aberta para várias formas de pensamento, e mesmo que a biossemiótica seja uma visão “nova” deve estar aberta a estudos que possam comprovar ou não suas teorias.

A biossemiótica relaciona os signos e os significados, como por exemplo, o reconhecimento molecular à distinção de células próprias ou não próprias do organismo ou mesmo comunicação entre os organismo, em relação aos sistemas não biológicos. O autor enfoca muito nos tipos de significados que existem entre o código genético, mas não podemos esquecer que muito do controle celular vem do ambiente externo. Portanto a biossemiótica é uma visão inovadora, mas tem que ser explorada a partir também de fatores externos e físicos.

O autor coloca uma problemática na biossemiótica: se existe informação (signos), esta é primária, enquanto os organismos e metabolismos são secundários. Portanto, “como signos poderiam estar presentes na natureza independentemente da cultura humana?”. Para responder a esse problema é desenvolvida uma teoria que abrange não somente o significado dado pelo observador, mas o significado original do signo (de natureza física). Novamente o autor nos joga uma nova problemática: não há descrição do surgimento dos signos somente por sistemas físicos, mas sabemos que a linguagem humana é um fator que envolve comportamentos e, portanto, é um fator físico.

Segundo a semiótica, a vida é uma interpretação funcional de signos de maneira a realizar funções que favoreçam sua adaptação e sobrevivência. A biossemiótica explica muito mais que códigos, ela tira a superioridade do ser humano em relação aos outros seres vivos e também a tentativa de humanizarmos tudo o que está relacionado com o sistema da vida.

A biologia explica a vida como um fenômeno natural. Ela não tem, no entanto, o monopólio do conceito de vida. O conceito de “vida” tem mais riqueza de significados na linguagem cotidiana do que é dada pela ciência. No cotidiano lidamos com metáforas e ambigüidades; isso nos traz muitos significados. Já a ciência é precisa. A função da biologia, portanto, é conceituar o fenômeno da vida, mas deve ser ampla e agrupar conceitos de neodarwinismo (a proposta de Darwin modernizada pelos novos conhecimentos científicos), teoria da autopoiese e a biossemiótica. Cada organismo com suas diferenças podem ser caracterizados como diferentes formas de vida.

Antonio Marques de Farias Junior; Arthur de Lima Silva; Fernanda Leite de Alcântara; Gabriela Pessenda; Julia Fernanda Marinho; Vanessa Fugolin Argentin – Segundo ano de Ciências Biológicas







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