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ARTIGOS: Filosofia da Ciência




Conceituando Vida

A tendência experimentalista que marca a biologia nas últimas décadas restringiu estudos mais teóricos sobre o seu próprio objeto de estudo: a vida.

Antigamente tinha-se uma visão animista da natureza, uma vez que possuíam uma crença politeísta, em que vários deuses (espíritos) pudessem residir em “seres inanimados”. Com a expansão do monoteísmo a crença de que algo distinguia os seres vivos dos seres inanimados persistiu, mas tendo dessa vez apenas um deus.

A revolução científica fortificou duas linhas filosóficas, o fisicalismo e o vitalismo. Para os fisicalistas, os organismos não eram diferentes da matéria inanimada, comparando os animais às máquinas e explicando os fenômenos naturais através de modelos matemáticos. Já os vitalistas acreditavam que a diferença entre os seres vivos e os inanimados poderia ser explicada através de uma “força vital” presente apenas nos seres animados. Somente no fim do século XVIII o fenômeno da vida passou a ser visto de forma científica. Anteriormente não se podia falar em uma biologia, mas apenas em uma medicina baseada na anatomia e na fisiologia e em uma história natural preocupada na classificação dos seres vivos, tentava-se assim definir a vida listando propriedades nos organismos presentes nesse grupo.

Seguindo uma visão sistemática, alguns biólogos tentam caracterizar os organismos vivos. De Duve, em 1991, cita sete assimilações: conversão de energia em trabalho, catálise, informação, isolamento controlado, auto-regulação e multiplicação. Ernst Mayr (1982), por sua vez, apresentou uma lista de oito características: complexidade e organização, singularidade química, qualidade, individualidade e variabilidade, presença de um programa genético, natureza histórica, seleção natural e indeterminação

Para Mayr, tantos os fisicalistas como os vitalistas estavam parcialmente certos em suas teorias; os fisicalistas no sentido em que os seres vivos eram constituídos por moléculas inanimadas e estas sim poderiam ser explicadas segundo os princípios da física e da química; os vitalistas, pois diziam que os organismos vivos possuíam características próprias, como sua genética, não presente em matérias inanimadas. Assim surgiu o modelo organicista, em que são consideradas as duas correntes filosóficas de maneira seletiva.

Segundo Claus Emeche e Charbel, é possível definir a vida, mas alguns requisitos são necessários: a) universalidade; b) Coerência com o conhecimento científico; c) elegância conceitual e capacidade de organização cognitiva; d) especificação.

Sendo assim, se tivermos um conceito que compreenda esses pré-requisitos, estaríamos diante de uma ontodefinição, ou seja, uma definição em andamento. Na biologia teórica, podemos encontrar algumas definições que seguem as condições acima expostas.

A que mais se destaca é baseada na idéia de que a vida pode ser definida como a seleção natural de replicadores ou entidades, sendo que a vida é uma propriedade de populações de entidades que se caracterizam: 1) pela auto-reprodução; 2) herdam características dos seres genitores por transmissão de informação genética (genótipo e fenótipo); 3) podem sofrer mutações aleatórias; 4) deixam descendentes bem sucedidos no ambiente em que se encontram (seleção natural).

Consideramos que o termo “replicadores” é referente ao gene e que os termos genótipo e fenótipo não se referem necessariamente a genes feitos de DNA e organismos feitos de células.

Richard Dawkins, seguindo o pensamento descrito acima, coloca uma ênfase maior sobre o aspecto informacional, isto é, sobre os genes como padrões de informação que se auto-propagam; já David Hull possui uma visão mais generalista, considerando tanto aspectos informacionais quanto materiais. Hull atribuiu um papel central no processo evolutivo aos interagentes (entidades que interagem com o ambiente) e às linhagens (as que melhores se adaptam ao ambiente e deixam descendentes).

Concluímos que a definição de vida não é uma tarefa fácil, no entanto, é imprescindível que estudos nesse campo teórico sejam feitos, já que o objeto de estudo da biologia é a própria vida, e nós como biólogos deveríamos ter o interesse em nos aprofundarmos mais nessa questão, que hoje é colocada em segundo plano, em função da biologia prática e laboratorial.

Débora Duarte Boaventura, Felipe Takayanagi Todo, Jorge Evangelista Carreia, Gabriela Schonhaus – Segundo ano de Ciências Biológicas







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