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ARTIGOS: Ciência e cinema




Ficção Científica e Educação

A ficção ciêntifica é um gênero artistico muito utilizado em filmes, revistas, livros e quadrinhos no período contemporâneo e através do qual são abordados diversos assuntos referentes à sociedade e sobre as possíveis mudanças com a descoberta de novas tecnologias. Estes meios de comunicação são bastante visualizados pelos jovens e com muito interesse dos mesmos, porém normalmente apenas com o intuito de diversão, mas através do estudo destes e de uma forma de aplicar os conhecimentos exibidos por trás da ficção, é possível despertar o interesse desse público jovem em assuntos relacionados à ciência, para que comecem a pensar e formar sua própria opinião e passem a não apenas ler uma obra, por exemplo, mas ler e questionar seu conteúdo com o conhecimento tecnológico-científico do momento.

A que a origem da ficção científica ocorreu no contexto da revolução industrial, período que desencadeou muitas mudanças na sociedade, ocasionando muitas perguntas a respeito da nova tecnologia e abrindo um espaço no imaginário das pessoas sobre até onde poderia chegar o avanço tecnológico, gerando assim, várias obras contendo especulações sobre o futuro, que por muitos eram vistas como fantasiosas, porém sempre tinha em comum o fato de serem baseadas no conhecimento tecnológico-científico da época de origem, ou seja, constitui um terrno fértil para discussões a respeito de nossa sociedade e de suas mudanças ao longo do tempo.

A ficção científica, por se tratar de uma ficção, não tem necessariamente que possuir nenhum vínculo com a realidade, porém é fato que os autores se utilizam da situação científica e tecnológica da época como base para então, a partir de sua imaginação e conhecimento da área, criar uma história na qual a sociedade esteja mais avançada em algum aspecto (tecnológico, político, entre outros) e tratar das consequências imaginadas por eles (autores) deste avanço na sociedade. Além do caráter informativo, atribui-se à divulgação científica uma função educativa, como a importante atividade de contribuir com seu pensamento para a formação de opinião pública.

Para muitos cientistas a ficção científica pode ser vista também como uma importante ferramenta para ajudar o desenvolvimento de tecnologias novas, uma vez que, segundo Ieda Tucherman “a relação entre as novas tecnologias e a ficção científica, esta última seria descendente do imaginário técnico-científico da modernidade e teria sido um fértil celeiro de existências lógicas que se tornaram possíveis”.

É o caso do escritor francês Julio Verne, que em seu livro De la terre à la lune (Viagem à lua), de 1865, previu não apenas que o homem conseguiria chegar ao satélite da Terra, mas também qual seria a velocidade necessária para essa jornada (11 km/s). Em Vinte mil léguas submarinas, de 1869, Verne também previu que os submarinos do futuro utilizariam um combustível muito eficiente e praticamente inesgotável, fato que ocorre hoje em dia com os submarinos nucleares.

Há um conceito bastante difundido de que cabe à divulgação científica preencher uma lacuna de informações que o leigo não tem em relação à ciência. Por isso os norte-americanos chamam a atividade de divulgação científica em jornais, livros e revistas especializadas de scientific literacy, que é a alfabetização científica, ou seja, tornar o leigo informado das questões da ciência. Deste modo é essencial a análise de materiais sobre ficção científica e concomitantemente um modo de aplicá-los na educação dos jovens estudantes, motivo no qual se baseia a análise do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, que é voltado para o público jovem e cujo autor é Douglas Adams, que se envolveu profundamente com a literatura e a ciência que lhe inspirou para a criação desta coletânea de obras (a série possui cinco livros). A obra foi escrita entre 1979 e 1980, portanto se encaixa na fase de ficção científica chamada Nova Onda, um período em que as novas descobertas (a do DNA principalmente) trouxeram novas questões a respeito de nossa existência, abrindo um grande espaço para autores explorarem estas dúvidas.

A história gira em torno de Arthur Dent, um cidadão comum de Londres. Sua vida nunca teve nada de extraordinário até o dia em que sua casa estava prestes a ser demolida pela prefeitura para dar acesso à construção de um desvio rodoviário. Não que houvesse algo de excêntrico no fato de sua casa estar prestes a ser demolida, já que é algo absolutamente normal em vista de que o progresso exige mudanças. Mas foi nesse dia que ocorreu um dos fatos mais extraordinários na vida de Arthur: pouco tempo após saber que sua casa seria demolida ele, assim como todos os habitantes do nosso planeta, descobriu que a Terra estava prestes a ser demolida por imensas naves vogons (uma raça alienígena não muito simpática) para dar acesso à construção de um desvio de uma rota espacial. Este não foi o único acontecimento extraordinário a acontecer a Arthur neste dia, pois foi neste mesmo dia que ele descobriu que seu melhor amigo, Ford Prefect, não é inglês (não é nem mesmo terráqueo), mas um alienígena oriundo de um planeta que fica perto de Betelgeuse. Foi graças a Ford que outro acontecimento extraordinário aconteceu a Arthur neste dia: ele foi o único sobrevivente da destruição total do planeta Terra, pegando uma carona clandestina numa das naves cargueiras vogons que vieram para destruir a Terra.

Após um tempo Arthur e Ford são descobertos e jogados ao espaço sideral, já que os vogons são criaturas horrivelmente brutas, insensíveis e burocráticas. Felizmente, são salvos pela nave Coração de Ouro, pilotada e roubada por Zaphod Beeblebrox, presidente da galáxia. Acompanham-no como tripulantes sua namorada terráquea (e ex-namorada de Arthur) Trillian e o “andróide paranóide” Marvin, um robô com o cérebro do tamanho do universo e um profundo desprezo pela humanidade.

Estes cinco personagens partem em busca da antiga e lendária civilização de Magrathea, conhecida por fabricar planetas sob encomenda. Então Zaphod encontra um planeta em ruínas que reconhece ser esse esquecido mundo. Eles aterrissam e descobrem que a civilização não estava arruinada, mas adormecida. Enquanto os outros tripulantes vão explorar o plantea, Arthur fica de guarda na nave, e neste momento ele conhece Slartibartfast, um velho designer de fiordes, que o apresenta ao interior da fábrica de planetas. Arthur descobre que seu planeta, a Terra, era na verdade um gigantesco computador construído por Magrathea a pedido de uma antiga civilização de outra dimensão. Esse computador tinha por objetivo calcular a pergunta fundamental, a pergunta a respeito da Vida, o Universo e Tudo Mais. Essa antiga civilização havia construído anteriormente a Terra, um computador chamado Pensador Profundo, que tinha a incumbência de descobrir a resposta fundamental à vida, o universo e tudo mais. Após milênios calculando, o Pensador Profundo finalmente lhes dera a resposta, que os deixara profundamente decepcionados: “42”. Ele então projetou um computador que lhes daria a pergunta fundamental e que os permitiria compreender a resposta. Esse computador era a Terra, cujo mecanismo era feito inclusive do seres vivos que nele habitavam. Dentre esses seres, os seres humanos eram a terceira espécie mais inteligente do planeta. A segunda mais inteligente eram os golfinhos. A primeira eram os ratos, que na realidade eram a forma por que se apresentam, nesta dimensão, os indivíduos da antiga raça que mandara construir o planeta, sendo eles na verdade seres pandimensionais imensos e hiperinteligentes.

Como já dito, infelizmente a Terra foi destruída para a construção de um desvio de uma rota espacial. Ironicamente, isso aconteceu 15 minutos antes de terminar o cálculo que daria a pergunta fundamental. Por isso, dois ratos, ou melhor, dois representantes da antiga raça, estavam à espera de Arthur em Magrathea, com a proposta de comprar seu cérebro, para tentar extrair deste a estimada e misteriosa pergunta. Arthur é claro, não aceita a proposta, e assim tem início uma perseguição, sendo bem-sucedidos na fuga. Então eles embarcam novamente na nave Coração de Ouro, e decidem dar uma passada no Restaurante no Fim do Universo. Os dois representantes da antiga raça, sem conseguir a pergunta que procuravam, decidem inventar uma que seja plausível e voltar para sua dimensão natal para realizar palestras e mesas redondas. A pergunta que eles inventaram é: “Quantos caminho é preciso caminhar?”.

O livro utiliza conceitos científicos bem conhecidos para então extrapolá-los para o campo da ficção, sempre embutindo uma situação cômica nesta extrapolação. Cabe a leitor identificar qual conceito foi utilizado para então entender a forma como este foi embutida no texto e como se deu sua extrapolação à realidade contemporânea.

A análise geral da obra indica que as informações contidas pertencem à categoria do ensino médio e superior, com conceitos de biologia, física, químicos básicos misturados a alguns conteúdos aprofundados a respeito destes temas, mas que por si só não atrapalham o entendimento da história e nem o entendimento do conceito científico, talvez servindo para criar um interesse do leitor, levando este a pesquisar sobre o assunto para assim entender completamente o que foi dito e qual a mudança feita pelo autor para tornar engraçado. Alguns exemplos abaixo:Um número cada vez maior de pessoas acreditava que havia sido um erro terrível da espécie descer das árvores. Algumas diziam que até mesmo subir nas árvores tinha sido uma péssima idéia, e que ninguém jamais deveria ter saído do mar.Conceito de Biologia, descrevendo a história evolutiva dos animais.

“Eis o que diz a Enciclopédia Galáctica a respeito do álcool: é um líquido volátil e incolor formado pela fermentação dos açúcares. Acrescenta ainda que o álcool tem o efeito de inebriar certas formas de vida baseadas em carbono.”

Conceito de Química, descrevendo as características do álcool e sua produção.

Em outras palavras, era uma forma de vida bípede baseada em carbono e descendente de primatas.”

Esta frase foi usada para descrever um ser humano (Homo sapiens), e utiliza conceitos químicos, de composição e biológicos, de evolução.

“Dez milhões de anos, terráqueo... Você concebe uma coisa dessas? Toda uma civilização galáctica pode evoluir a partir de um verme, cinco vezes seguidas, em dez milhões de anos. Tudo por água abaixo.”

Mais um conceito de evolução, porém pode-se observar que não é bem explicado e é bastante superficial.

A obra explora os dogmas da sociedade, ridicularizando estes através do humor e muitas vezes colocando estes comportamentos levados ao extremo em povos alienígenas, que ainda têm alguns traços humanos.

Apesar de haver vários conhecimentos científicos na obra, acredito que este não é o conceito principal da mesma. O que deve ser mais utilizado a partir desta obra são questões filosóficas a respeito de nós mesmos, nossas motivações e esperanças e além de servir como um lazer para o estudante pelo humor escrachado contido. Portanto a obra possue uma qualidade inegavelmente ótima, porém acredito que não servem para uso didático nas aulas, mas sim para uma leitura extraclasse e possivelmente para desabrochar no estudante uma busca pelo autoconhecimento e com isto dedicação na vida profissional e pessoal.

Lucas de Freitas Coli Rocco – Ciências Biológicas







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