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ARTIGOS: Alimentação




Insetos comestíveis: uma alternativa de alimento para o futuro?

Em relatório recente divulgado pela ONU, a população mundial deverá chegar a mais de 9,2 bilhões de habitantes em 2050. Isto representa um grande desafio em relação à disponibilidade de recursos que venham a atender este enorme contingente populacional.

E dentre esses recursos, destacam-se os alimentos. Não há dúvida de que haverá a necessidade de aumento de produtividade, novas propostas de técnicas mais eficientes e sustentáveis de combate de pragas de culturas, manejo mais adequado dos produtos para minimizar perdas até a comercialização, dentre outros fatores, para que a produção mundial de alimentos atenda à crescente demanda para as próximas décadas.

Na cultura ocidental, não é comum a abordagem da utilização de insetos como alimento por humanos. Isto porque os insetos são geralmente considerados como animais esteticamente sujos, feios e/ou repulsivos, o que interfere diretamente no hábito de ingeri-los como alimento.

A aversão aos insetos comestíveis também tem a ver com o fato de que a entomofagia (ato de se alimentar de insetos) é normalmente vista como prática de povos “primitivos”, o que acaba contribuindo para que uma quantidade considerável de proteína animal torne-se indisponível àquela parcela da população mundial que sofre com a fome e a desnutrição.

É importante destacar também que os hábitos alimentares não normalmente influenciados por circunstâncias pessoais, culturais e econômicas, além muitas vezes, de fatores políticos internos e externos. Normalmente observa-se que civilizações/ povos que passaram em algum momento por algum tipo de privação alimentar, são aqueles com maior espectro de alimentos em potencial que podem ser ingeridos. Ou seja, são civilizações/ povos que tiveram maior necessidade de provar novas fontes de alimento.

Porém, cabe destacar que os insetos já são utilizados pelo homem como alimento em muitas partes do mundo. Por exemplo, no Oriente, vários povos se alimentam de gafanhotos; certos nativos africanos comem formigas, cupins, larvas de besouros, lagartas e gafanhotos. No Ocidente, a maioria dos relatos sobre o hábito de se alimentar de insetos refere-se a tribos indígenas.

O México é o país do continente americano com mais relatos na literatura sobre insetos comestíveis, já tendo sido registradas mais de 500 espécies. No caso do Brasil, apesar da pouca divulgação para o público em geral, ao redor de 100 espécies de insetos já são utilizadas como alimento, especialmente por povos indígenas. Se formos considerar vários grupos étnicos em todo o mundo, quase 1.800 espécies de insetos já foram relatadas como comestíveis. O maior grupo de insetos comestíveis é o de coleópteros (besouros), com mais de 400 espécies, seguido por himenópteros (principalmente formigas), com algo em torno de 300 espécies, ortópteros (gafanhotos e grilos, dentre outros) e lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas), cada grupo com mais de 200 espécies registradas, além de percevejos, cupins, cigarrinhas e moscas, dentre outros.

Estudos indicaram que 10 % dessas espécies são cosmopolitas e as restantes estão restritas a determinadas zonas geográficas, das quais 12 % são espécies aquáticas e 78 % são terrestres.

Os insetos podem ser consumidos em todos os estágios de desenvolvimento, mas é em forma de larva ou pupa que a maioria das espécies registradas é consumida. Ou seja, estágios que fazem parte do ciclo dos insetos holometábolos, aqueles que apresentam metamorfose completa durante seu desenvolvimento.

Estudos têm demonstrado que a “carne” dos insetos contém quantidades de proteínas e lipídeos satisfatórias e são ricas em sais minerais e vitaminas. Por exemplo, a formiga da espécie Atta cephalotes (tanajura) possui mais proteínas (42,59 %) do que a carne de frango (23 %) ou bovina (20 %).

Como vários grupos de insetos podem ser encontrados em abundância em determinados ambientes, pode-se inferir que grande quantidade de biomassa está deixando de ser aproveitada como fonte de alimento para humanos. E como no futuro, um grande desafio para a humanidade é produzir alimentos em quantidade cada vez maior, fica a pergunta: será que também para a civilização ocidental, os insetos não poderão vir a ser uma importante fonte de alimento? Talvez seja apenas uma questão de mudança de hábitos alimentares, já que mesmo sem a maioria das pessoas atentarem para o fato, os insetos já são consumidos indiretamente, através da ingestão de alimentos contaminados com fragmentos dos mesmos.

Claudio J. Von Zuben – Depto. de Zoologia, Instituto de Biociências – UNESP Rio Claro







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