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ARTIGOS: Evolução




Em Tempos de Evolução

“Essa é uma visão grandiosa da vida” Charles Darwin em Origem das Espécies (1859) Já com 150 anos de existência, a teoria evolucionista do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) ainda se encontra em pleno processo de desenvolvimento e ampliação. A sistemática e a biologia evolutiva do desenvolvimento (evo-devo) são exemplos de teorias que se norteiam considerando os conceitos de variação pré-existente e seleção natural propostos por Darwin, assim como alguns conceitos contemporâneos ligados à idéia de que os estudos sobre evolução podem ser aliados aos conceitos de embriologia, desenvolvimento, genética e paleontologia.

Antes mesmo de Darwin, o homem estava em busca de sua origem, tentando relacioná-la com o que o cerca. Esta busca vem da dúvida intrínseca da nossa espécie em saber onde ela se encaixa e qual sua função em meio a tanta diversidade. Porém, os recentes registros da presença humana, quando comparados ao tempo de existência da Terra, não permitem respostas completas e seguras a essas perguntas. Uma ferramenta poderosa – o método científico – foi criada pelo homem na tentativa de entender um pouco melhor sobre a sua origem e a do ambiente em seu entorno, bem como sobre as correlações entre as espécies.

Durante as grandes navegações do século XVI, já se registrava e se classificava as diferentes espécies encontradas. Esse foi um período no qual houve uma vasta expansão territorial por parte dos europeus, que levou à descoberta de muitas espécies animais e vegetais. A catalogação e a sistematização das espécies surgiram com a necessidade de se ter em mãos registros sobre o novo mundo que fora descoberto. O processo da coleta de materiais continuou se desenvolvendo durante o século XVII, desta vez efetuada por naturalistas que seguiam pelas mais diferentes regiões com a intenção explícita, ainda que insipiente, de classificar sua fauna e flora. Porém, os métodos de coleta, identificação e classificação não eram uniformes, o que causava grande divergência entre cada autor. Um desses autores foi o sueco Carolus Linnaeus (1707-1778), que ganhou grande destaque pelo desenvolvimento de um método para classificar as diversas espécies que se baseava em critérios de diferenças e de descontinuidade, e que se disseminou entre os sistematas. Com o predomínio de uma forma de catalogação, pôde-se dar um salto com respeito aos conhecimentos sobre a biodiversidade conhecida.

Nos séculos seguintes, a ciência continuou avançando de forma exponencial e paralelamente à expansão do capitalismo europeu. Os ideais iluministas inspiravam a busca de novas proposições e a quebra de velhos paradigmas que já não atendiam ao momento histórico da concepção de ciência nascente nessa época. Nesse contexto, as idéias do francês Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) foram pioneiras, baseadas na premissa de que as características adquiridas durante a vida de um indivíduo seriam passadas para seus descendentes. Segundo as idéias de Lamarck, o acúmulo de modificações transformaria, ao longo das gerações, uma espécie simples em uma mais complexa. Esta teoria é embasada na lei do uso e desuso de caracteres e na evolução unidirecional a partir da matéria inanimada, que tenderia ao que se chamava de “perfeição”.

As expedições com naturalistas a bordo foram também muito importantes no século XIX. Darwin foi um desses homens. O britânico viajou pelo mundo no HMS Beagle coletando tudo o que achava conveniente – apesar de não ter sido o naturalista oficial da embarcação. Ao analisar as espécies coletadas em uma de suas paradas, como nas Ilhas Galápagos, verificou que espécies próximas apresentavam características específicas que se relacionavam, por exemplo, aos seus hábitos alimentares. Essas características o fizeram sugerir que deveria existir uma espécie ancestral que teria se divergido e originado essas espécies diferentes, ainda que aproximadas. Com base nisso, Darwin propôs uma teoria que revolucionaria toda a interpretação da biologia e outras vertentes do pensamento humano moderno. Não há um modo de compreender os passos da vida sem mencionar de forma substancial a teoria da evolução. A teoria de Darwin não se baseava no uso do desígnio divino para explicar a natureza, que deveria ser compreendida através do processo da seleção natural a partir de um ancestral comum.

Em linhas gerais, a evolução deve ser vista a partir de dois componentes: a origem da variação (baseada em eventos aleatórios) e a alteração da frequência dessas variações no tempo, em que o mais bem adaptado tende a se desenvolver e transmitir as estruturas de melhor desempenho aos seus descendentes. Deve-se compreender que essa transmissão não segue as idéias lamarckistas, segundo as quais o uso e desuso são os processos responsáveis pelo desenvolvimento das estruturas e pelo sucesso reprodutivo dos seus portadores. Uma vez que as características que são repassadas estão localizadas nos genes presentes nas células gaméticas, que serão repassados aos descendentes, as mutações têm o importante papel de inserir modificações dentro de uma população de uma dada espécie. Quando mutações são inseridas em uma população, o organismo que possui tais mutações promoverá, por meio da reprodução, a inclusão dos genes resultantes nessa população e os descendentes poderão apresentar tais características (no entanto, a maioria das mutações não traz melhorias nas condições de desenvolvimento do animal e por isso pode levá-lo à morte ou à infertilidade antes da transmissão dos caracteres). Devemos ter em mente que a evolução raramente proporciona melhoria nas condições de desenvolvimento das espécies, pois as mutações ocorrem tanto a favor quanto contra o desenvolvimento e reprodução do organismo.

Mais recentemente, foram desenvolvidos alguns mecanismos e teorias que nos ajudam no exercício de verificação das relações de parentesco entre as espécies. Um exemplo é a sistemática filogenética, que procura entender, por meio de árvores ramificadas, a biodiversidade e como ela se relaciona evolutivamente. Outro exemplo de desenvolvimento da teoria evolutiva é a evo-devo que procura compreender as modificações morfológicas que ocorreram ao longo da história evolutiva de uma espécie através da união de conceitos de embriologia, desenvolvimento e genética, juntamente com estudos da paleontologia.

Nesse aniversário de 150 anos da publicação de “Origem das Espécies”, devemos compreender que Darwin não só desenvolveu uma teoria revolucionária para explicar a diversidade biológica como também aguçou nossa curiosidade no que diz respeito às modificações e desenvolvimento das espécies. Darwin é o principal nome por trás da idéia de que todos os seres vivos, desde as primeiras formas de vida até as espécies atuais, vivem perpetuamente em tempos de evolução.

Leandro Pereira Tosta & Anna Carolina Russo Curbelo Martin – 1º ano de Ciência e Tecnologia, UFABC







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