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ARTIGOS: Evolução




Aceitação e Rejeição das Teorias Evolutivas entre Estudantes

Tanto no ensino-aprendizagem de Ciências Naturais e Biologia, oferecidas durante a Educação Básica, quanto para os estudantes universitários de cursos de Ciências Biológicas, as teorias evolutivas são essenciais para a compreensão da diversidade dos organismos vivos. Por exemplo, quando o estudante precisa entender sobre a resistência de insetos aos pesticidas ou de bactérias aos antibióticos é necessário que ele tenha uma compreensão do processo de Seleção Natural.

São nítidas as necessidades de preparar o aluno para enfrentar questões cruciais, como a conservação da biodiversidade, as transformações ambientais, as conseqüências do uso indiscriminado de antibióticos, entre outros temas intimamente ligados a teorias evolutivas. No entanto, algumas pesquisas educacionais têm demonstrado que existem vários obstáculos nos processos de ensino-aprendizagem sobre esses temas.

Pesquisadores de diferentes países têm investigado as questões de como se ensina e como se aprende sobre Evolução Biológica: alguns apontam que os alunos não estão maduros para compreendê-la; outros analisam que os professores não têm abordado o tema de maneira a motivar a aprendizagem dos alunos; e um terceiro grupo mostra que, em alguns casos, os alunos simplesmente rejeitam a Evolução por terem construído, no contexto familiar, explicações religiosas para as origens e desenvolvimento dos organismos vivos. Assim, neste trabalho, buscamos compreender a aceitação e a rejeição de teorias evolutivas para dois grupos de alunos da cidade de Tangará da Serra em Mato Grosso: 1) alunos do Ensino Médio que recém terminaram o Ensino Fundamental; 2) universitários de um curso de Ciências Biológicas.

Os resultados apresentados foram elaborados a partir de dois trabalhos desenvolvidos no contexto do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP), na área de concentração Ensino de Ciências e Matemática.

No que diz respeito ao método utilizado nas duas pesquisas, os dados foram coletados através de questionários que buscavam o quanto os alunos concordavam ou discordavam de temas e conceitos estruturantes do pensamento evolutivo. Foram aplicados 294 questionários para alunos recém matriculados no Ensino Médio em uma grande escola de Tangará da Serra-MT, sendo provenientes de 37 escolas de Ensino Fundamental da região. Esses estudantes tinham, em média, 15 anos e a maioria deles era do sexo feminino (58,4%). No que diz respeito à religião a maioria manifestou participar da igreja Católica (66,9%); em segundo lugar com 23,2%, apareceram os Evangélicos; 8,32% manifestaram não ter religião e 1,42% foram agrupados na categoria outras crenças religiosas.

Aos alunos do Ensino Superior de Ciências Biológicas, de uma universidade estadual também de Tangará da Serra, foram aplicados 159 questionários, sendo que a maioria dos respondentes era do sexo feminino (74,8%), com idades distribuídas, principalmente, entre 19 a 21 anos. Esses alunos, em sua maioria, manifestaram-se católicos (51%); outros 19,7% assinalaram crer em Deus, mas não participar de qualquer religião; 16,6% se identificaram protestantes; 5,7% responderam não crer em Deus ou não pensarem a respeito; 3,8% se mostraram espíritas e 3,2% de outras religiões.

De um modo geral, 80,2% dos alunos universitários investigados entende que a evolução é importante para as suas próprias vidas cotidianas e 70,8% afirmam que a exclusão do ensino de evolução do currículo escolar pode ser um atraso. Embora 74% dos alunos acreditem que as teorias evolutivas apresentam importantes passos na direção certa, apenas 46,7% acreditam nas discussões evolutivas sobre os seres humanos. Um grupo de 40,9% dos alunos manifestou não perceber qualquer conflito entre a aprendizagem de evolução e suas culturas, em contrapartida 35% acreditam que tais teorias são contrárias aos seus valores culturais. Por outro lado, 58,9% concebem que suas posições no campo científico permitem a aceitação de idéias criacionistas. Resultados de entrevistas, também desenvolvidas com esses alunos, mostraram que eles tendem a assumir posturas semelhantes às dos criacionistas progressivos, que aceitam teorias evolutivas, mas acreditam que há influencia divina nas forças da natureza.

O questionário aplicado aos alunos do Ensino Superior apresentava perguntava, ainda, sobre o quanto os alunos estavam comprometidos com atividades religiosas (individuais, familiares e comunitárias). Eles marcavam em uma escala que começava em nenhum e terminava em muito forte comprometimento. Partindo dessas respostas, percebeu-se que os mais comprometidos com atividades religiosas mostraram maior rejeição às teorias evolutivas. Dentre eles, destacaram-se os evangélicos. As meninas manifestaram-se mais comprometidas com a religião do que os meninos, considerando que na média tenderam a dar respostas mais próximas de forte ou muito forte comprometimento. Após testes estatísticos, com as médias das respostas femininas sobre as teorias evolucionistas, foi visto que elas rejeitam mais fortemente tais perspectivas.

Dados parecidos foram percebidos nas análises sobre os alunos do ensino médio. O aspecto que chama a atenção são as diferenças quanto à freqüência de participação nas atividades religiosas. As meninas (46,4%) manifestaram participar mais freqüentemente de atividades religiosas do que os meninos (29,7%). Além disso, a proximidade com a religião é apontada, também, na questão que media a atitude dos alunos tangaraenses com relação à religião, pois houve concordância de 72,4% no item Sou uma pessoa religiosa, ou uma pessoa de fé; e de 74,9% no componente Compreendo e acredito na doutrina ou nos ensinos religiosos.

Os alunos de ensino médio aceitam as evidências evolutivas baseadas nos registros fósseis (61,3%), bem como a ancestralidade comum (66%) e a seleção natural (66,5%). Entretanto, no que diz respeito à origem e a evolução da Terra 55,3% discordaram, assim como, sobre a evolução dos seres (55,8%) houve rejeição significativa. Os alunos evangélicos, também tenderam a rejeitar mais fortemente a Evolução do que os demais. Foi notado, ainda, que dependendo do vínculo que o estudante estabelece com os dogmas religiosos, ele assume diferentes posturas diante dos conhecimentos científicos. Além disso, as meninas adolescentes desse grupo já freqüentam mais intensamente a igreja do que os meninos.

Os conhecimentos científicos e religiosos construídos pelos alunos investigados se relacionaram significativamente. Foi identificado que os posicionamentos contrários às orientações evolutivas são influenciados pelas religiões e se manifestam mais fortemente nas concepções das mulheres que, por sua vez, se mostraram mais comprometidas com as atividades religiosas.

Nesse contexto, a aceitação de tópicos da teoria evolutiva parece influenciada principalmente por características sociais e culturais do ambiente em que esses alunos vivem. Também, tanto no nível médio como no ensino superior, os estudantes rejeitaram o conteúdo dos itens referentes à origem do ser humano a partir de explicações evolutivas.

Graciela da Silva Oliveira – Núcleo de Ciências Biológicas, UFS; Acácio Alexandre Pagan – Núcleo de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, UFS; Nelio Bizzo – Programa de Pós-Graduação em Educação, USP







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