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ARTIGOS: Evolução




Gravidez, Lordose e Evolução: Curvinhas que Fazem a Diferença.

Em um artigo na revista Nature (Fetal load and the evolution of lumbar lordosis in bipedal hominins), pesquisadores relataram que a coluna vertebral das mulheres evoluiu de modo a fornecer maior suporte do que a coluna vertebral masculina, provavelmente para auxiliar no esforço-extra durante a gravidez.

Essa observação vale tanto para vocês, mocinhas faceiras, como para as fêmeas de Australopithecus que viviam há mais de 2 milhões de anos, como foi observado em dois fósseis nesse mesmo estudo.

Australopithecus "normal" em a e grávida em b Sem esse suporte adicional, os músculos das costas precisariam fazer muito mais força para manter a postura ereta. Ao longo dos 9 meses de gestação, todo esse esforço poderia levar a eventuais lesões e fadiga muscular.

Diferenças entre a mulher "normal" em c e grávida em d e e

Quando nossos ancestrais passaram a andar em duas pernas, vários ajustes no esqueleto foram necessários. Nossas vértebras aumentaram em número e largura, dando maior suporte à parte superior do corpo, e a coluna tornou-se curva na porção inferior das costas, de modo a manter os ombros para trás, movendo o centro de massa do corpo acima dos quadris.

Sabem aquela curvinha na base da coluna das mulheres, que chama tanto a atenção masculina? Ela tem seus méritos na seleção da melhor postura para garantir uma gestação saudável.

O peso extra da gravidez muda novamente o centro de massa do corpo para a frente (como acontece quando se anda em quatro pernas), fazendo com que uma mulher seja, em teoria, mais propensa a "cair" para a frente. Assim, pesquisas demonstraram que as mulheres grávidas trazem seu centro de massa de volta aos seus quadris inclinando-se para trás, aumentando a curvatura na base de sua espinha.

Ao medirem o centro de massa de 19 mulheres grávidas, os pesquisadores descobriram que elas se inclinavam para trás até 28 graus além da curvatura normal da coluna, diminuindo o esforço de torção (ou torque) que o peso do bebê cria em volta do quadril em até oito vezes! No entanto, essa maior inclinação pode produzir maior estresse na espinha: as vértebras são mais propensas a atritar umas às outras, levando a dores nas costas ou mesmo fraturas.

Os autores também observaram que a coluna vertebral feminina possui várias características que ajudam a prevenir esse tipo de dano. Enquanto a curvatura inferior da coluna vertebral masculina é formada por 2 vértebras (L4 e L5 no desenho da esquerda), no caso das mulheres temos 3 vértebras (L3, L4 e L5 no desenho da direita), o que ajuda a distribuir a tensão em uma área maior.

Ainda, ocorrem articulações especializadas atrás do cordão espinhal 14% maiores em relação às vértebras masculinas, sugerindo adaptações para resistir a forças superiores. Essas articulações também estão orientadas num ângulo diferente, permitindo maior proteção para as vértebras.

Todos esses fatores fazem com que as mulheres sejam, sem dúvida, mais adaptadas para carregar um bebê. Essas mesmas diferenças encontradas entre machos e fêmeas de Australopithecus certamente foram muito importantes quando o modo de vida era baseado em rotinas de coleta, caça, e, eventualmente, fugindo para não virar comida de predadores maiores ou mais perigosos. Imagine correr de um lobo, por exemplo, carregando um peso de até sete quilos que ainda te deixa desequilibrado?

É... A vida das mulheres nunca foi fácil. Faz você repensar todas as vezes em que sua mãe te disse "te carreguei por nove meses, seu ingrato!".

Gabriel Cunha, blog RNAm







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