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ARTIGOS: Evolução




A pangenia no discurso evolucionista

Quando pensamos em evolução logo lembramos de Charles Robert Darwin com sua teoria inovadora da Seleção Natural. Charles Darwin foi um naturalista britânico intrigado com a vida e sua diversidade. Por conta disso, em 1836, fez uma viagem a bordo de HMS Beagle que durou cinco anos, realizando várias pesquisas e coletando dados e amostras entre fósseis, amostras geológicas, além de observar milhares de espécies vegetais e animais. Após o retorno da viagem, Darwin começou a trabalhar em seu livro e em 1859 publicou "A Origem das Espécies", onde introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum por meio de seleção natural, que assim conceituou:

"A esta preservação das diferenças e variações individuais favoráveis, e a destruição das prejudiciais eu chamei de Seleção Natural ou Sobrevivência do mais apto".

Muito contestado na época por não possuir uma teoria que explicasse a hereditariedade Darwin acrescentou:

"Estou convencido de que a seleção é o principal, mas não o exclusivo meio de modificação das espécies".

O que poucos sabem é que em 1868, Darwin publicou outro livro intitulado: "Variação de Animais e Plantas Domesticados" onde sintetizou a teoria provisória da pangênese, na qual procurou responder a lei da herança que está envolvida na teoria da evolução por seleção natural.

Esta teoria é uma prévia para uma teoria genética depois formulada por August Weismann. Por meio dela, Darwin baseia-se nas seguintes premissas: Todas as unidades do corpo têm o poder de auto divisão no qual estas partes também expelem gêmulas (partículas individualmente diferentes, muito pequenas, e por isso invisíveis). As gêmulas de todas as partes do sistema se reuniriam e constituiriam os elementos sexuais, cujo desenvolvimento formaria outro ser. Estas poderiam não se manifestar ou se desenvolver ao mesmo tempo, poderiam ficar em estado dormente e passariam a outras gerações, nas quais poderiam eventualmente se desenvolver; para isso deveriam se unir a células não desenvolvidas ou parcialmente desenvolvidas. Cada unidade expeliria gêmulas não só no estado adulto, mas também nos outros estágios de desenvolvimento que as precedem. As gêmulas em estado dormente possuiriam afinidades mútuas e se agregariam nos brotos ou nos elementos sexuais. Estas conjecturas constituem a hipótese provisória chamada de Teoria da Pangênese.

Darwin indica em nota de rodapé que outros autores, como o conde de Buffon, Charles Bonnet, Richard Owen e Herbert Spencer, elaboraram teorias de herança e de reprodução que aparentemente se assemelhavam à idéia de pangênese; ele considera sua teoria como uma modificação e ampliação destas, mas coloca claramente várias diferenças.

Esta era de fato a primeira teoria da hereditariedade bem elaborada e internamente consistente. Mas segundo Ernst Mayr (biólogo evolucionista, ornitólogo, explorador tropical, historiador científico e naturalista), esta teoria não poderia ser capaz de responder pela herança dos caracteres adquiridos. Como poderia o efeito do uso e desuso dos órgãos periféricos (mãos, pele, olhos) ser comunicado aos órgãos reprodutores? Para dar uma resposta a isso, Darwin propôs a "hipótese do transporte":

Em todos os estágios do ciclo vital, as células poderiam expelir gêmulas, que circulariam livremente por todo o sistema, e quando supridas de nutrição apropriada, elas se multiplicariam por auto divisão, desenvolvendo-se a seguir em células iguais às de que procederam.

Essa é a teoria da pangênese no seu sentido mais estrito, e é essa teoria que os críticos de Darwin normalmente tinham em mente quando se referiam à teoria darwiniana da pangênese.

Esta teoria propõe a existência de partículas provenientes de todos os órgãos do corpo que seriam transmitidas de geração a geração. Por este raciocínio, Darwin consegue explicar algumas leis gerais que regulariam tanto o crescimento como a geração e que estão intimamente envolvidas com a teoria da evolução pela seleção natural. Contudo segundo Luísa Aurélia Castañeda (em seu artigo "As ideias das heranças de Darwin: suas explicações e suas importâncias, de 1994), Darwin não consegue esclarecer como surgiram as variações que são provocadas pelo meio, uma vez que necessitam de várias gerações para se estabelecerem. A pangênese também não consegue esclarecer a herança de instintos, pois, segundo o que foi colocado por Darwin, não podemos detectar uma base material para o instinto, ou seja, é muito difícil pensar em gêmulas referentes a instintos.

Neusa Maria Scheid e Nadir Ferrari afirmam no artigo "Pangênese e teoria cromossômica da herança: persistência de ideias?", de 2008, que embora essa ideia contenha, nos modelos explicativos sobre hereditariedade, concepções atualmente consideradas incorretas, rudimentos dessa teoria podem estar presentes na teoria atualmente aceita. A afirmação de que os genes estão presentes em praticamente todas as células do organismo, tanto as germinativas como as somáticas, guardaria resíduos da ideia de pangênese?

A teoria da pangênese, como colocada por Darwin, não estabelece descontinuidade entre células germinativas e células somáticas, compatibilizando-se com a teoria, que não é mais aceita atualmente, da herança de caracteres adquiridos. Embora a teoria cromossômica considere que os mesmos genes estão presentes em células somáticas e células germinativas, considera também que alterações nas primeiras não são transferidas à prole por intermédio das segundas, uma vez que pressupõe o isolamento entre elas.

Natália Sozza Bernardi, Diego Simões dos Santos; Graduação em Ciências Biológicas







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