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ARTIGOS: Formação Continuada, Educação Ambiental




Formação Continuada de Professores em Educação Ambiental

A educação ambiental (EA) vem sendo apontada como uma das possibilidades de enfrentamento da crise ambiental vigente, devendo, para isto, colaborar com a criação de uma relação justa e sustentável entre os membros da sociedade humana e destes com a natureza, desde as formas mais individuais e locais em que essa relação se manifesta até as mais coletivas e globais. Assim, como defendido por vários pesquisadores da EA, caberia a ela não apenas ensinar conteúdos da área das ciências naturais, sensibilizar o indivíduo para a beleza da natureza e transmitir condutas “ecologicamente corretas”, mas trabalhar sob a perspectiva de que não existem leis atemporais, verdades absolutas e conceitos sem história, mas sim relações em movimento que devem ser constantemente questionadas e enfrentadas para que se construa uma sociedade caracterizada como “sustentável”. Frente a qualquer proposta inovadora de ensino, assim como parece ser a proposta da EA, devemos refletir sobre elementos essenciais para sua efetivação: o professor e a sua formação.

De fato, o tema formação em EA é um dos eixos estratégicos das propostas de implementação de processos de EA, tal como reforçado nas diretrizes da Conferência de Tbilisi (1977), a primeira conferência intergovernamental sobre EA, e na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) de 1999. Alguns pesquisadores brasileiros da área da EA identificaram, porém, que a EA é pouco abarcada nos currículos de graduação, inclusive nos de licenciatura em ciências naturais. Isto resulta em lacunas na formação dos professores, as quais podem comprometer de modo significativo o desenvolvimento de práticas de EA no contexto escolar.

Valendo destacar ainda, como nos lembra Ronaldo Souza de Castro em seu trabalho “A formação de professores em Educação Ambiental possibilita o exercício desta no ensino formal?”, que a formação em EA requer uma reformulação metodológica, conceitual e curricular, na medida em que é necessário estar em sintonia com seus pressupostos (tais como o da interdisciplinaridade, da participação, da contextualização e da conceitualização pluridimensional do meio ambiente), para, assim, influir de modo mais consistente na construção de outra relação entre a sociedade e a natureza. Assim posto, cabe aos estudantes de licenciatura, dentre outras atitudes, exigir que a EA faça-se presente na nossa formação na graduação. Voltando-me aos professores de ciências e biologia, tal cobrança justifica-se, em especial, pelo fato de que a temática ambiental atravessa e é atravessada por praticamente todos os conteúdos que trabalhamos em sala de aula e que, salvo algumas exceções, não temos uma formação mais ampla que nos possibilite situar o conteúdo específico da nossa formação frente contexto social posto (fundamental para construir uma EA consistente). Mas, e quanto aos professores já em atuação? Que possibilidades estes docentes, comumente afastados da universidade, têm de estudar de modo mais sistematizado a EA?

É justamente em meio a isso que a formação continuada vem sendo apontada como uma das possibilidades para o desenvolvimento profissional docente nas mais diferentes áreas do conhecimento. Porém é amplamente reconhecido o fato de não existir um modelo único para essa formação. Pensando nisso, questiono quais os caminhos possíveis e interessantes para tal realização.

Tal formação pode ser feita de diferentes modos, como por meio de seminários, cursos e encontros periódicos, mas é recorrente a defesa de que ela se estenda por um período de longa duração, permitindo um maior aprofundamento e sistematização dos conteúdos a serem trabalhados, bem como a revisão de atitudes e de valores pessoais e profissionais do professor. Para isto, é necessária a criação de políticas públicas que garantam a continuidade, o fortalecimento e a permanência de equipes de formação nos municípios e estados, através, por exemplo, de articulações entre as secretarias de educação, as escolas e as universidades.

Além disso, diversos objetivos e conteúdos podem ser abarcados, de acordo com especificidades locais, ficando aqui a ressalva que uma sintonia com a escala global característica dos problemas ambientais deve ser estabelecida, sob risco do desenvolvimento de propostas ingênuas de EA. Dentre os vários caminhos propostos na literatura, temos ainda a ideia de que os professores devem viver, no próprio processo formativo, uma experiência de EA, para que assim intrumentalizados, possam ser os agentes da sua própria formação. Desse modo, além dos conhecimentos teóricos da EA postos em foco, das discussões dos seus conceitos complexos e dos debates éticos, a assimilação prática de metodologias participativas deve ter espaço reservado nos cursos.

Uma questão central no processo de formação continuada refere-se ao atual papel que é atribuído ao professor: o de cumpridor de tarefas, sem controle e sem autonomia na escolha dos conteúdos e da forma de trabalhá-los. Sendo contrários a essa perda de identidade docente na organização atual do trabalho escolar, cumpre que o espaço do curso propicie o aumento da autonomia e da responsabilidade dos professores, envolvendo-os na escolha dos conteúdos a serem trabalhados e dos processos avaliativos de que participarão.

Destaco também que o acompanhamento dos professores após o processo de formação desponta como necessário para a qualidade da formação, para a concretização de práticas de EA em outros espaço, inclusive por fortalecer a autoestima do professor.

Em suma, temos que o processo educativo voltado à temática ambiental exige uma formação específica que de forma geral não vem sendo regularmente proporcionada aos professores durante sua formação inicial ou continuada. Todavia, o processo de formação continuada parece despontar como uma possibilidade interessante de formação docente para trabalho com EA, tanto por preencher lacunas deixadas pela formação inicial, quanto por consistir em um continuum que deve percorrer toda a trajetória profissional docente. Há, inclusive, alguns apontamentos sobre como esse processo deve ser realizado, no intento de superar a reprodução de alguns valores e atitudes recorrentes na nossa sociedade.

Por fim, fica o convite para os estudantes de licenciatura e professores atuantes das mais diversas áreas do conhecimento lutarem pela construção e consolidação de espaços para colocarmos a questão ambiental e o seu processo educativo em pauta, bem como para participarem daqueles já existentes, contribuindo com os conhecimentos específicos da sua formação e buscando também uma formação mais ampla.

Glaucia de Medeiros Dias, Mestranda em Educação - UNESP Rio Claro







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