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ARTIGOS: Plantas, fitossociologia, ecologia




A Sociologia das Plantas

A sociologia começou a fazer parte da vida do homem no século XIX quando Auguste Comte em 1838 usou pela primeira vez o termo “Sociologie” com intenção de unificar as áreas de estudo do homem. Com a Revolução Industrial e, principalmente, a consolidação do capitalismo moderno, a sociologia teve o papel fundamental de esclarecer a nova realidade de organização da humanidade. Hoje, de uma forma geral, podemos definir a sociologia como “a ciência que procura explicar as relações entre indivíduos e grupos de indivíduos dentro de uma comunidade”. Na botânica, podemos aplicar esse conceito à subárea da ecologia vegetal, denominada fitossociologia.

Até poucas décadas atrás, recuperar a vegetação tinha objetivos muito simples: controle dos efeitos erosivos ou até a melhoria visual. Não havia, também, conhecimento suficiente para caracterizar uma formação de vegetação natural, fato que mudou recentemente. Hoje temos o conhecimento da complexidade de uma comunidade natural e o quanto cada espécie pode desempenhar um papel importante para esta comunidade. A fitossociologia traz dados desde a importância de cada espécie vegetal até a distribuição dessas espécies em uma amostragem (grupo pequeno de indivíduos retirado de uma população que se pretende conhecer).

Um profissional que trabalha nessa área precisa ter boa formação em sistemática vegetal para poder identificar as espécies presentes na área estudada e também interpretar corretamente os dados obtidos para caracterizar as comunidades vegetais, trazendo, portanto, informações fundamentais para futuros planos de reflorestamento cientificamente embasados e a possibilidade comparações entre fitofisionomias (aspectos da vegetação). Dentro da fitossociologia, podemos analisar diversos tipos vegetacionais e cabe também ao profissional adequar a metodologia para amostrar corretamente o que pretende estudar.

As formas de amostragem se dividem em duas categorias principais: a amostragem que possui área fixa (parcela ou grupo de parcelas) e a amostragem que possui área variável, com medidas de distância (como é o caso dos pontos quadrante) [Nota: “parcelas” ou “pontos quadrante” são diferentes técnicas de subdivisão de uma área para estudo das características de um ambiente ou das populações presentes nele]. Se pretendermos, por exemplo, estudar um campo limpo (uma das formações do Cerrado onde ocorrem, principalmente, plantas herbáceas), são usadas parcelas de 1m² posicionadas dentro da área de estudo. A caracterização desse tipo de vegetação é, em geral, verificada pela porcentagem da ocupação de cada espécie dentro das parcelas. Por exemplo: uma espécie de Poaceae (gramínea) ocupou 70% enquanto uma espécie de Bromeliaceae (família das bromélias) ocupou 20% da área sobrando 10% de solo exposto sem ocupação. Se desejarmos estudar árvores e arbustos de uma área de mata atlântica, a metodologia muda totalmente. Em geral, é amostrado um número considerável de parcelas de 10m por 10m (100m2) ou até 10m por 20m (200m2). Além de identificar as plantas, são realizadas medidas de altura e de raio do caule e/ou copa para verificar o quanto uma determinada espécie ocupa em área nas parcelas estudadas.

A amostragem com área variável mais utilizada é a metodologia dos pontos quadrante. Nesse método, são feitas retas denominadas transectos onde o profissional estabelece uma distância entre cada ponto quadrante. Essa distância pode variar de acordo com a estrutura e densidade da vegetação. O ponto quadrante, consiste em um ponto central dividido em 4 quadrantes. Em geral os quadrantes são estabelecidos utilizando um objeto móvel em forma de mais “+” que é fixado no ponto central. Esse objeto é girado e quando movimento pára, são estabelecidos os quadrantes ao acaso. Dentro de cada quadrante, é amostrado o indivíduo mais próximo do ponto central que satisfazer os critérios de inclusão. Portanto, em cada ponto quadrante são amostrados 4 indivíduos. Além das medidas realizadas nas plantas, medimos também a distância entre o ponto central e o indivíduo, dado que posteriormente trará informações sobre a densidade por área dos indivíduos. Dependendo da estrutura da vegetação, os critérios para inclusão dos indivíduos podem variar. Por exemplo: Em uma formação de vegetação amazônica com árvores de grande porte, em geral, consideramos apenas indivíduos com mais de 20 centímetros de perímetro à altura do peito (PAP) enquanto num cerrado sensu stricto com árvores e arbustos que não ultrapassam os 10 metros, consideramos todos os indivíduos a cima de 10 centímetros de perímetro à altura do chão (PAC).

Quando há mais tempo e financiamento para executar o trabalho, em geral são usadas as parcelas, pois os resultados são mais completos e confiáveis. Se o trabalho consiste apenas em uma caracterização fitossociológica ou não há tempo/financiamento suficiente para executá-lo, é usada a metodologia com área variável.

Recuperar áreas degradadas tem uma importância fundamental na manutenção dos processos ecológicos. Com a fitossociologia, é possível obter resultados muito mais próximos dessa complexa interação entre os indivíduos dos sistemas naturais onde se estabelecem os processos ecológicos e, eventualmente, até os serviços ecossistêmicos.

Gabriel Pavan Sabino, Ciências Biológicas - UNESP Rio Claro







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