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ARTIGOS: Sono, insônia




O sono no mundo moderno

Ansiedade, estresse e angústia são alguns dos sintomas ligados a noites mal dormidas. Cientistas demonstram que o contexto sociocultural, a tecnologia e o estilo de vida atuais contribuem significativamente para que ocorram distúrbios do sono, os quais prejudicam o desempenho mental, a segurança e a saúde das pessoas. Recentemente, um artigo da Nature and Science of Sleep (Natureza e Ciência do Sono, março de 2012) sobre “os impactos do estilo de vida e desenvolvimentos da tecnologia sobre o sono” trouxe uma revisão bastante interessante sobre os fatores ambientais e comportamentais que interferem no padrão de sono, duração e qualidade, além das consequências reportadas pela ciência nos últimos anos e possíveis tratamentos para as desordens do sono.

Dentre eles, destacarei os chamados fatores ambientais. As escalas de serviço, mudanças no ciclo diário (claro-escuro) devidas a viagens transmeridionais (que vêm aumentando nas últimas décadas), exposição alterada à luz e à mídia eletrônica são alguns exemplos, trazidos com a vida contemporânea.

Vários problemas são causados por escalas de serviço que alternam os turnos durante dia e noite, por exemplo. Turnos da noite acarretam menor tempo dormido durante o dia subsequente, sonolência que pode durar até vários dias após a noite de trabalho. A escala acaba tornando também o trabalhador propenso a dormir em serviço, principalmente durante as horas que antecedem a manhã. Quando o trabalhador tem seu turno durante o dia, não pode dormir até tarde, por conta de seu horário de entrada, e a isso segue um dia inteiro sem dormir. Juntos, sono reduzido e tempos longos sem dormir, têm implicado em problemas na segurança, produtividade, saúde e desempenho destes trabalhadores. Pesquisas mostram ainda que as escalas flexíveis de trabalho (como em horários noturnos, aos finais de semana ou aqueles em que o trabalhador é chamado por telefone, a qualquer momento do dia) acarretam em piores saúde mental, qualidade de sono e bem-estar pessoal que as escalas tradicionais.

“Jet lag” foi outra desordem do sono citada pelo autor. Esta é causada quando a pessoa viaja entre regiões que apresentam diferentes ciclos “claro-escuro”, por exemplo, em grandes viagens intercontinentais (grandes diferenças de fuso horário). Sonolência durante o dia, dificuldades no sono durante as viagens, prejuízos de atenção e desempenho, além de problemas gastrointestinais e perda de apetite são alguns dos sintomas relatados. Embora a exposição à luz tenha sido demonstrada como fator positivo no ajuste do ritmo diário, podendo artificialmente corrigir a alteração do ciclo diário em indivíduos que viajaram longas distâncias e também diminuir a sonolência e melhorar a atenção e desempenho em trabalhadores noturnos, alguns problemas foram reportados pela exposição alterada à luz, em decorrência da vida moderna. A exposição à luz durante a noite, tanto no serviço (trabalhadores noturnos) como em casa, aumenta os riscos de câncer de próstata e mamas. Experimentos utilizando animais e estudos epidemiológicos com humanos sugerem que a luz a noite implica na interrupção do ritmo diário e supressão de melatonina, o que pode favorecer o desenvolvimento de tumores.

Em crianças, adolescentes e adultos, outro fator ambiental que tem contribuído para a ocorrência de distúrbios do sono é a exposição às mídias eletrônicas. A presença de dispositivos midiáticos (televisão ou computador) no quarto de crianças e adolescentes demonstrou que os mesmos vão dormir mais tarde e o tempo de sono fica reduzido. Estudos com adultos mostram que, para as mulheres, o tempo aumentado de navegação na internet, e o aumento das ligações telefônicas e mensagens SMS, para os homens, são fatores que aumentam os riscos de desenvolvimento dos distúrbios do sono. A exposição aos dispositivos eletrônicos tem mostrado também alterar a atenção, já que o brilho das telas também pode suprimir a liberação de melatonina, o que pode se acentuar pela presença de conteúdo excitante.

Processos fisiológicos e comportamentais, de estudo das ciências como a biologia e medicina, estão intimamente ligados com o sono. A liberação de hormônios, os ciclos de dormir/acordar e o desenvolvimento de atividades mentais (desempenho) oscilam naturalmente com o ciclo diário, e são controlados pelo “relógio biológico”, localizado no hipotálamo. Sob as condições normais, todos estes processos são controlados pelo ciclo ambiental (claro e escuro) e estão com ele sincronizados.

Tendo em vista estes aspectos do mundo moderno, as influências deles sobre o sono e, então, deste sobre a vida das pessoas, saúde, trabalho e bem estar, é importante que as empresas atentem para os fatores que afetam a vida dos trabalhadores e até mesmo para o que eles alteram no cotidiano destas empresas, com relação ao sono (risco de acidentes, aumento dos gastos e diminuição do desempenho são alguns exemplos). Quem sabe permitir horários de descanso? Estudos mostraram que cochilos de 20 a 40 minutos são o suficiente para aumentar atenção e desempenho, durante a noite.

É importante ressaltar a necessidade de diminuir o tempo de exposição às telas e à luz durante a noite e, em especial, ressaltar a função dos pais no controle das crianças e adolescentes, que podem ter comprometidos o desenvolvimento e desempenho escolar, por conta de noites mal dormidas.

Finalmente, atingir a quantidade ideal de sono, em um ambiente escuro e quieto, evitar também o consumo de bebidas alcoólicas e cafeína, são condições essenciais para evitar a insônia e distúrbios do sono consequentes dela.

Renato Augusto Corrêa dos Santos, Jornal Biosferas







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