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ARTIGOS: Água, exportação, consumo




A Água Virtual no Contexto da Exportação

O conceito de "Água Virtual" foi introduzido pela primeira vez pelo professor britânico John Anthony Allan e diz respeito à água embutida no processo da fabricação dos bens de consumo, desde o cultivo da sua matéria prima até a industrialização. Esse conceito, inclusive, rendeu ao professor o "Premio Internacional da Água de Estocolmo".

A Água Virtual nos permite ter uma dimensão mais abrangente sobre o uso consciente da água, ainda mais no contexto atual em que a escassez é uma possibilidade. Segundo a empresa de tratamento de água e esgoto Sabesp, o consumo de água diário por habitante é de aproximadamente 200 litros por dia. No entanto, segundo cálculos da Água Virtual apresentado pela revista National Geographic (Abril 2010), na produção de um quilo de carne de vaca são consumidos cerca de 15 mil litros de água e na produção de uma xícara de café, cerca de 140 litros, por exemplo. Dados como estes nos permite chegar à conclusão de que a quantidade de recurso hídrico que necessitamos para nossa sobrevivência é infinitamente maior do que o esperado.

Além do âmbito da economia doméstica da água, a Água Virtual está relacionada também em um importante contexto sócio-econômico no que se diz respeito à água envolvida na produção de commodities destinados a exportação. O agronegócio no Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário mundial, promovendo cerca de 28% do PIB e 37% das exportações totais, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.

O Brasil é depositário de cerca de 19% da água do planeta. Contudo, apesar da abundância relativa, sua distribuição não é uniforme. Por exemplo: a Amazônia detém a maior bacia fluvial do mundo, sendo o rio Amazonas considerado essencial para o planeta. No entanto, é uma das regiões menos habitadas do país. Em compensação, os maiores centros urbanos onde existe maior concentração demográfica estão muito longe dos grandes rios brasileiros como o Amazonas, o São Francisco e o Paraná. Nessas circunstâncias, a produção e o comércio nos quais a água está envolvida passam a requerer uma nova abordagem.

Nesta conjuntura da exportação de commodities, o Brasil envia indiretamente para o exterior cerca de 112 trilhões de litros de água doce, segundo dados da Unesco – o equivalente a 45 milhões de piscinas olímpicas. Esses dados colocam o país como o quarto maior exportador de "água virtual" do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.

Mas quais são as implicações da exportação indireta desse insumo invisível? Primeiramente, devemos deixar claro que a escassez de água já é uma realidade em diversas regiões do mundo. As Nações Unidas (ONU) estimam que, até 2025, cerca de dois terços da população mundial estarão sofrendo a carência de recursos hídricos, sendo que cerca de 1,8 bilhão enfrentarão severa escassez de água. Com isso chegamos à conclusão que além de estarmos exportando nossos produtos, estamos consequentemente exportando um recurso natural valioso "gratuitamente" já que a escassez e a poluição não estão incluídas no preço das commodities.

Como aponta Arjen Hoekstra, estudioso do assunto, "a alocação de recursos hídricos, além de ambiental, é uma questão econômica, porque quando a água é escassa é preciso destiná-la para onde haverá maiores benefícios para a sociedade. Mas sendo a água um bem público, o mercado não é o único determinante. A água deve ser usada para produzir alimentos para a população, para culturas ligadas a biocombustíveis ou para plantação de commodities para exportação? Isso é uma escolha política." Neste contexto, uma possibilidade eficiente seria que o país adotasse políticas públicas voltadas à gestão hídrica, adotando uma abordagem mais abrangente e aprofundada, visando melhor aproveitamento dos nossos recursos naturais pela população.

Isabella Bueno, Jornal Biosferas







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