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ARTIGOS: Astrologia, determinismo, genética




Dos Astros aos Nucleotídeos

"Nós crescemos pensando que o nosso destino estava nas estrelas, agora sabemos que, em boa parte, nosso destino está nos genes." (James D. Watson)

Mesmo as sociedades humanas mais primitivas já observavam o céu e as estrelas, tentando entender o que se passava sobre suas cabeças. Destas observações, pessoas começaram a criar relações entre o céu e o que se passava ao redor delas, e assim nasceu a astrologia (naquele momento, o estudo dos astros). Com o desenvolvimento da astrologia foi criado o horóscopo, que é um diagrama que tenta definir a personalidade de uma pessoa através da análise dos astros durante o seu nascimento. Com o passar dos anos esta pseudociência evoluiu e, junto dela, o horóscopo, que incorporou concepções de diversas culturas diferentes até chegar ao seu estilo atual, sempre presente em jornais, sites e canais de televisão, que muitos de nós conhecem bem.

A astrologia é considerada pseudociência porque os astrólogos nunca conseguiram provar com fatos a eficácia das previsões e nunca teve credibilidade no meio científico, mas, com o avanço da ciência, percebe-se que algo ela tem em comum com certos modos de pensar filosóficos, como o determinismo. Este sugere que nós já nascemos com nossas personalidades e características pré-determinadas, seja pelos astros ou pelo DNA.

O determinismo genético, por exemplo, é um assunto bem polêmico e que envolve questões éticas. No entanto, há cientistas que fazem estudos e teorias que, de certa forma, levam a uma abordagem determinista. Para ilustrar essa situação, observamos uma notícia que foi publicada recentemente no Yahoo! Notícias, intitulada "É genético! Identifique seu tipo sanguíneo e saiba como ele influencia o seu trabalho". Esta notícia foi baseada em pesquisas realizadas por Sérgio Ricardo, especialista em gestão comportamental com neurociências e neurometria. Segundo estas pesquisas, o perfil profissional das pessoas e as atividades que elas executam com mais facilidade podem estar correlacionadas a seus tipos sanguíneos e, sendo os tipos sanguíneos determinados geneticamente, estes estudos se relacionam com o determinismo genético.

Em novembro de 2007 a revista Super Interessante publicou uma matéria intitulada "Sua majestade, o gene" em que relata que o cientista Richard Dawkins, autor do livro "O Gene Egoísta", foi acusado de promover o determinismo genético, pois sua teoria levava a uma "noção segundo a qual tudo o que nós somos e fazemos é um produto inexorável dos genes, e não do ambiente ou da cultura", como relata Alberto Holtz, escritor da matéria. De fato, o livro de Dawkins tem uma interpretação determinista, já que a ideia principal de seu livro é a de que os organismos são como máquinas de sobrevivência do gene, que tem por objetivo a replicação e perpetuação.

O determinismo, genético ou astral, é um assunto que deve ser tratado com cuidado por envolver questões éticas e poder acarretar atitudes relacionadas a princípios de eugenia. Esta é uma palavra criada em 1883, por Francis Galton, que a definiu como "o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente". A eugenia é considerada antiética por muitos, pois afirma a predeterminação à personalidade e às características de um ser humano, sem levar necessariamente em consideração o seu meio vivente e a influência cultural, podend estimular compreensões preconceituosas.

A astrologia pode não ser considera uma ciência, mas para muitas pessoas suas previsões não parecem ser mera coincidência. De outro lado, com o avanço da ciência, cada vez mais se sabe sobre a influência dos genes no desenvolvimento dos organismos, incluindo os seres humanos. Esse mesmo campo de estudos genéticos também já admite que muitas de nossas características se modificam ou se expressam em função de estímulos do meio ambiente, então esse não é um componente dispensável.

Talvez seja chegado um momento na ciência de estabelecer mais diálogos entre os diversos campos do saber e perceber que eles podem ter mais a se acrescentar que se opor. Para uma melhor abordagem de conflitos éticos como o determinismo e a eugenia, é vantajoso que haja diferentes pontos de vista, mas é importante que eles olhem para o mesmo ponto.

Érick Teixeira Rodrigues, Ciências Biológicas - UNESP Rio Claro







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