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ARTIGOS: Biologia, Educação, Educador




Eu e a educação

“O que você vai querer ser quando crescer?”. Essa era uma das perguntas mais frequentes em minha vida, e com certeza na vida de todo jovem em crescimento. Minha resposta sempre foi a mesma: “Quero ser bióloga”. Em contrapartida, vinha a indignação do interrogador: “Bióloga?! Ih, vai virar professora.”. Até então, nunca tinha dado muita importância a esse tipo de comentário, mesmo porque essa nunca tinha sido uma idealização minha. Sempre tive sólido em minha cabeça o quanto essa profissão era desvalorizada, e que dela, não receberia nenhum retorno. Nunca havia de fato parado pra pensar no real papel da educação, embora sempre tenha admirado muito todos os professores que tive.

Infelizmente, devido a um conceito pré-estabelecido tanto pelas pessoas ao meu redor, quanto pela sociedade, segui no começo da graduação com a ideia fixa de que licenciatura não faria parte do meu currículo. Desde então, indagações que nunca havia pensado, foram surgindo aos poucos. De que serviria todo esse conhecimento adquirido ao longo dos estudos, se não retribuído a uma sociedade que de certa forma, me colocou dentro de uma universidade pública e custeou esse aprendizado? Afinal, qual seria a finalidade de tudo isso? Seguir na vida acadêmica, desenvolver teses e projetos, publicar artigos e restringir o conhecimento à uma pequena parte da população?

Este é um cenário que qualquer pessoa envolvida com um portador de Alzheimer gostaria de esquecer. Ainda pior é lembrar que a doença não tem cura. Contudo, há algo novo neste campo já que a ciência não tirou o Alzheimer de sua memória investigativa. Recentemente, houve um grande avanço! Pela primeira vez a doença foi revertida em seres humanos. Este incrível feito científico abre precedentes para que a cura do Alzheimer deixe de ser um devaneio ou sonho distante e comece a trilhar o caminho da realidade.

Foi então que desenvolvi a consciência de retorno. De que essa sociedade merece receber satisfações. E que a questão que menos importava era se ela saberia reconhecer toda uma dedicação e também retornaria de forma positiva aquilo que lhes foi passado.

Percebi que o retorno, mesmo que implícito, sempre viria, pois o simples fato de ter semeado o pensamento e o desejo por conhecimento que fosse à cabeça de algum aluno, já seria recompensador. O sentimento de “dever cumprido” estaria finalmente associado ao meu compromisso com a educação. Percebi que educar não se refere à simples teoria do verbo, mas sim à formação de um novo indivíduo, um cidadão que saiba se situar no meio em que vive e dentro de uma sociedade. Que saiba exigir seus direitos e deveres e se impor em situações que antes não saberia. É despertar o desejo de mudar, revolucionar e não permitir que a comodidade do “não vejo, não sinto” o impeça de progredir como pessoa. É repassar a correta instrução, e não moldá-los como nós fomos moldados. É dar o mínimo de esperança para seguir em frente na luta por um mundo melhor.

Parece hipocrisia dizer que acreditamos nesse estereótipo de um novo mundo, mas me parece ainda mais derrotista dizer que não. “Um grão de arroz pode virar a balança; um homem pode ser a diferença entre a vitória e a derrota.”

Sem querer me prolongar muito, termino com alguns dizeres do nosso patrono da educação brasileira, que define meus sentimentos leigos de quando era caloura, e os do presente, como aluna consciente do curso de ciências biológicas:

“Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.”

Paulo Freire

Karina Claro - Aluna do 4º ano de Ciências Biológicas - UNESP Rio Claro







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