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ARTIGOS: Saúde , Obesidade




A obesidade e a divulgação científica: saúde e educação pelo olhar das mídias

Elaine Marangoni

Se nas épocas da Idade Média os corpos robustos faziam sucesso, e se há alguns anos as crianças gordinhas eram associadas à boa saúde, hoje, estar acima do peso é considerado sinônimo de preocupação.

A divulgação científica, tomada como um modo de aproximar a comunidade das descobertas que se dão dentro dos muros da academia, faz dos meios de comunicação mediadorescom a capacidade de entregar notícias sobre diversos assuntos de interesse da sociedade, chegando ao ponto de permitir com que eles façam parte de esferas que antes eram responsabilidade de outras instituições, como é o caso da escola e do governo.

Nos casos de saúde da população em geral, sendo que notícias sobre saúde pública são divulgadas todos dias, na tentativa de alertar e prevenir certas doenças, o caráter educador das mídiasrevela-se.

A obesidade é um dos temas que aparecem com frequência, no entanto, muitas vezes o filtro pelo qual passam as notícias e descobertas sobre essa doença fogem da esfera da educação e prevenção.

Sentidos sobre moda, estética e até mesmo sobre sustentabilidade econômica se fazem muito presentes em artigos divulgados em revistas de divulgação científica de grande circulação.

Mas todo mundo que está acima do peso é considerado obeso? É preciso ressaltar que existe uma diferença entre obesidade e sobrepeso, sendo que a obesidade é uma doença e devem ser tomadas medidas para o seu controle.

Apenas rotular as pessoas acima do peso como “preguiçosas”e sem força de vontade mascara a seriedade com a qual devemos tratar o assunto.

É impossível fazer com que todos os indivíduos se encaixem em um padrão imposto pela sociedade de corpo “ideal”, temos que levar em conta a singularidade de cada indivíduo e investigar as causas da doença, que podem derivar de fatores diversos, como o stress, um descontrole metabólico e até fatores genéticos.

A classificação da OMS para o sobrepeso e a obesidade é calculada segundo o Índice de Massa Corporal (IMC), que é estipulado por meio da divisão do peso corporal pela altura do indivíduo ao quadrado.

Ao IMC associa-se o risco de morbimortalidade(junção de dois termos médicos, morbidade e mortalidade, ou seja, aquelas doenças que causam morte em determinadas populações ou grupo de pessoas), dessa forma, IMC superior a 25kg/m2 é considerado o valor para delimitar o sobrepeso.

Considera-se obesidade o valor de IMC acima de 30kg/m2. Quanto à gravidade, classifica-se a obesidade em graus: grau I com IMC entre 30 e 34,9, grau II quando o IMC localiza-se entre 35 e 39,9 e grau III quando o IMC é maior que 40, segundo os próprios dados da OMS.

Nos casos mais graves, já é cogitada a possibilidade de uma cirurgia para intervenção, como é o caso da cirurgia bariátrica.

O que acontece hoje é que, por modismos e urgência de perder peso, muitas pessoas têm recorrido às cirurgias, sem analisar os riscos que correm e se elas são realmente indicadas para aquela pessoa.

A cirurgia só é indicada para os casos mais graves, quando a obesidade é considerada mórbida, ou seja, quando traz risco de morte para o paciente.

O que se imagina de umcorpo“ideal”é construído pelos meios de comunicação, mais intensamente pelas redes sociais como Facebook e Instagram, que publicam todos os dias fotos e dicas sobre boa forma e alimentação saudável. Sendo assim, muitas pessoas, pelo estilo de vida sedentário que levam e pelas dificuldades de alimentar-se adequadamente e em horários apropriados, não conseguem encaixar-se no padrão exigido pela sociedade.

Ser obeso hoje é estar fora de um padrão de beleza imposto, o qual não trata a obesidade com a seriedade de uma doença crônica que é, catalogada pela Organização Mundial de Saúde e que pode acarretar outras doenças como a diabetes e a hipertensão.

O caráter educador que se espera dos divulgadores de ciência é o de esclarecer dúvidas e colaborar com a prevenção de uma epidemia que chega a ser de ordem global.

Infelizmente, o que se encontra nas páginas de muitas revistas destinadas à divulgação científica são fragmentos de pesquisas que em alguns casos nem chegaram aos seus resultados, além de propagandas sobre programas de emagrecimento e críticas ao próprio obeso por não ser capaz de controlar a sua doença, pois a “solução” seria simples e de conhecimento de todos: controlar a alimentação e aumentar as atividades físicas.

Tentando simplificar e aproximar a informação do público leigo, as revistas muitas vezes subestimam a capacidadede seus leitores e entregam conteúdos que silenciam as fontes da notícia, fazendo com que o conhecimento se dê de forma fragmentada, como também acontece quando essas notícias são utilizadas para fins educacionais nos livros didáticos.

Nessa tentativa de ser “didático”, para que o público entenda os conteúdos, encontra-se o que aprendemos desde bancos escolares de que, para se entender um conteúdo científico por um estudante (ou leigo no assunto), esse conteúdo precisa ser simplificado.

O jornalismo científico sério não silencia as fontes e nem subestima seus leitores. Faz essa aproximação de forma natural e deixa a cargo do leitor buscar informações mais aprofundadas caso haja interesse de sua parte.

Divulgar ciência não significa infantilizar os conteúdos mas acreditar na capacidade de entender e na necessidade de entregar conteúdos completos e confiáveis aos leitores.

Tomando a obesidade como exemplo nessa matéria, a população deve estar atenta para não cair nos modismos e orientações errôneas e buscar um profissional de saúde que possa orientá-lo quanto as medidas a serem tomadas para o tratamento e prevenção de uma condição que deve ser abordada com a seriedade necessária.







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