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“A Rio+20 deixou a desejar” – Entrevista com o profº David Montenegro Lapola

Após participação no evento, David Montenegro Lapola, professor da UNESP de Rio Claro, fala sobre a sua experiência no evento. “Estava com expectativas altas, me deixei desapontar, mas estava com os pés no chão e sabia que isso poderia acontecer.” 

Nos dias 13 a 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+20, com a finalidade de discutir o tema e propor soluções efetivas no mundo todo. O Itamaraty, Ministério de Relações Exteriores do Brasil, foi o ministério responsável pela organização do evento, mas a preocupação organizacional ocorreu muito em cima da hora. De acordo com o professor, houve falhas na organização e divulgação de uma agenda. “Havia muitos eventos oficiais e não oficiais ocorrendo ao mesmo tempo e nem tudo estava na programação do site”, afirmou. 

Em comparação com a Rio+20, na ECO-92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ocorrida em junho de 1992, havia muito mais coisas na mesa: as convenções sobre o clima, a diversidade biológica e a desertificação, a agenda 21 (documento com ações em direção ao desenvolvimento sustentável) e a declaração do rio, que inspirou a legislação ambiental internacionalmente. “Era um evento mais enxuto”, disse David. 

É difícil saber exatamente o que vai mudar com a Rio+20. Talvez o tema “sustentabilidade” fique mais em voga, fortalecendo os debates acerca da questão, mas não é possível saber se isso resultará em ações concretas para o fortalecimento dos três pilares, econômico, social e ambiental. David não se mostrou otimista em relação a mudanças pelo menos para os próximos dez anos. Ele, que realiza pesquisas com mudanças ambientais globais afirma que apesar de ter ocorrido a convenção do clima na ECO-92, o Brasil não evoluiu politicamente na questão da contenção das mudança climáticas. 

Durante a conferência desse ano, os chefes de estado discutiam sobre a retirada e permanência de determinados assuntos do texto final da Rio+20 e não era permitida a discussão. Ao ser questionado sobre a participação da sociedade civil no evento o professor retrucou: “Isso é participação? Você deixar a pessoa assistir para ela não falar nada?”. A participação efetiva poderia se dar por meio de ONGs e outras instituições e isso culminou na subida do representante das ONGs na plenária para pedir a retirada do trecho que afirmava a participação da sociedade civil, mas o trecho não foi retirado. 

Lapola argumenta que, para o governo brasileiro, a Rio+20 foi algo bom. O país mostrou, organizou, presidiu as negociações e de ultima hora mostrou um documento, mas esse não apresentava nada muito relevante, apenas haviam sido retiradas as partes em que não havia consenso. Por outro lado, para o Brasil, no geral, não foi o esperado porque não demonstrou o papel de liderança de um novo paradigma de desenvolvimento que o Brasil deveria propor. No Rio centro, havia os chefes de estado discutindo o evento oficial e há 40km, no aterro do flamengo ocorria a cúpula dos povos. Para David, o ideal era que as coisas ocorressem juntas. “Foram feitos protestos e foi preparado um documento com muitas reivindicações e há duvidas se realmente isso chega aos chefes.”. 

“Todos estão desapontados com a Rio+20, mas foi importante para tentar estabelecer rumos conjuntos, globalmente falando. Tentar definir agendas comuns que mudarão a vida de todos.”, disse o professor quando perguntei sobre a real importância da conferência. 

Segundo ele, o que valeu bastante foi o fervor, a participação e protestos vistos nas ruas, não só no Rio Centro, mas também no Aterro do Flamengo. Apesar de não ter ocorrido participação direta, indiretamente, com a cúpula dos povos e outros eventos paralelos houve uma conscientização do poder que cada um tem dentro desse debate, mesmo que com pequenas ações como redução de consumo. David acredita que fica o legado de realizarmos mudanças de ações pessoais, de cada um, e a consciência de que não podemos depender apenas dos governantes.

ENTREVISTAS: Rio+20, David Montenegro Lapola







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