Jornal Biosferas

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ED. ESPECIAL 2012: A Biologia como Ciência e a Biologia como Profissão




O Currículo e a Universidade-Pensando a matriz curricular em função de um projeto pedagógico

Nos dias 26 e 27 de março ocorreu um evento muito importante no Curso de Biologia da Unesp de Rio Claro organizado pelo GTP (Grupo de Trabalho Permanente) "Universidade e Educação" onde foram discutido os rumos da profissão da Biologia correlata aos processos formativos no cursos de graduação em Biologia da Unesp tanto no que se refere a formação dos bacháreis quanto dos licenciados.

Tive o prazer de participar de uma mesa redonda onde a temática focava o papel do currículo na universidade.

Penso que ao falarmos sobre universidade devemos nos reportar ao entendimento de como a Universidade Brasileira foi gerada. Desde a sua criação temos recebido forte influência do modelo europeu de universidade e com isso o entendimento acerca da universidade ficou pautado nos modelos jesuítico, napoleônico e alemão. Isso é bastante emblemático haja visto que dentro desses modelos era clara a função e a concepção do ensino, pesquisa e extensão.

No modelo jesuítico orientado pelo documento "Ratio Studiorum", datado de 1590, a ideia de universidade dava-se como instituição detentora do saber. Este saber deveria ser então transmitido valorizando a cópia e a memorização por meio de métodos pré-estabelecidos. O conhecimento deveria ser entendido como algo acabado e pronto.

Com o modelo napoleônico de universidade surge a organização das disciplinas em grades, a justaposição de disciplinas e sua hiearquização. Se estabelece naquela época a ideia de organização da grade curricular por ciclos básicos e profissionalizantes, havendo em muitos casos a total separação da teoria e da a prática referendando a ideia de que é preciso primeiro aprender teoria para depois vivenciar a prática.

Com a chegada do modelo alemão de universidade, a grande ênfase dada à função da universidade passa a ser o mercado de trabalho. Para tanto as carreiras voltam-se para o atendimento a uma sociedade industrial: ao surgimento dos cursos de especializações; a ideia do desencadeamento do conhecimento tecnológico aplicado com a ideia de pesquisas com papel utilitário; forte vínculo linear na educação, desenvolvimento econômico e mercado de trabalho; parcerias entre universidade e setor produtivo; vestibular unificado, ciclo básico, criação de novos cursos; regime de créditos e matrícula por disciplinas; fim da cátedra e a instalação do sistema departamental; criação da carreira docente e do regime de dedicação exclusiva; expansão do ensino superior; extensão universitária; ênfase nas dimensões técnica e administrativa.

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, surge a possibilidade de se pensar a educação tambem no contexto univeristário com novas perspectivas para o ensino. Surgem construções de diretrizes para as diferentes áreas ou cursos de graduação com objetivos e metas que se constituem em desafios ao modelo tradicional de organização institucional e trabalho docente, iniciando-se pelo momento de organização do Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e pelos Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC).

Na organização dos Projetos Pedagógicos de Cursos é necessário qe seja considerada a proposta educativa da universidade contida no PPI, assim como das metas formativas, objetivos, compromissos (contendo valores e fins da escolarização superior e de atuação/compromissos sociais), o perfil profissiográfico dos futuros profisionais que serão formados por meio de um processo participativo, integrado, flexível e articulado.

Na organização dos projetos pedagógicos de cursos urge que haja: uma proposta de gestão do conhecimento por meio de uma visão dinâmica, integrada, avançando da informação para o conhecimento; a proposta de ação profissonal dos docentes no ensino, pesquisa e extensão vinculada ao curso de que ele faz parte; entendimento claro das estratégias de ensino e de avaliação que serão realizadas para garantir a proposta de gestão do conhecimento contida e defendida no documento.

É necessário esclarecer que quando discutimos acerca de um currículo de curso não podemos focar apenas no ordenamento de disciplnas e na contagem de carga horária e créditos, pois corremos o risco de focarmos apenas num emaranhado de dados e disciplinas que descaracterizam a proposta formativa do curso e, consequentemente, ferem o perfil profissiográfico do futuro profissional que está sendo formado na universidade.

Penso que devemos focar nossos olhares na busca por um projeto pedagógico de curso que tenha clara sua proposta formativa, onde a matriz curricular tenha que ser organizada a partir disso e não de interesses particulares, organizacionais, administrativos ou apenas para atender ao mercado.

Acredito que uma matriz curricular que nasça por meio de uma proposta formativa clara, coerente e inovadora de formação deva contemplar um currículo globalizante que valorize e parta de uma ciência histórica, datada, provisória, relativa e contextual; que promova observação, análise, composição e recomposição de informações, argumentos, dúvidas, teorias, princípios norteados por sujeitos historicamente situados; que trabalhe com eixos integrando as áreas de conhecimento e que possamos avançar num trabalho docente que esteja focado em "Programas de Aprendizagens", exigindo da ação docente ações interdisciplinares nas diferentes áreas do conhecimento e não nos "planos de ensino" que são por sua constituição isolados e desprovidos de ações coletivas.

Maria Antônia Ramos de Azevedo, Departamento de Educação, UNESP Rio Claro







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