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ED. ESPECIAL 2012: A Biologia como Ciência e a Biologia como Profissão




Seminário Ciência e Mídia-Evento organizado pela FAPESP reúne cientistas e jornalistas do Brasil e do exterior para debater o trabalho da mídia científica brasileira

De acordo com o consultor de comunicação da FAPESP, Carlos Eduardo Lins da Silva, "o objetivo é promover uma reflexão sobre a cobertura científica e discutir os problemas, as qualidades, aspectos éticos e as mudanças trazidas pelas novas tecnologias"."A programação foi montada de modo a deixar apenas um jornalista e um cientista em cada mesa de debate. O fato de ter poucos debatedores abre mais espaço para o diálogo com a plateia", disse Lins da Silva.

Celso Lafer presidente da Fapesp dá abertura a primeira palestra do evento. O palestrante, Clive Cookson, trabalha com Jornalismo Científico, graduado em química na Oxford, trabalhou na rádio BBC como correspondente. Há mais de 30 anos se dedica a cobrir temas de ciência e tecnologia em diversos países e diferentes veículos, escreve atualmente sobre química e indústria farmacêutica como editor de Ciência na Financial Times.

Ele tira as matérias de materiais de publicidade, como emails de instituições de pesquisa, por exemplo, sua segunda fonte são contatos pessoais, do qual surgem "furos de reportagem", terceira fonte são as conferências, congressos em que participa, a quarta fonte são revistas de publicações científicas e a quinta e última ele captura o que a a TV está cobrindo. Os blogs científicos ,para Clive, não significam uma fonte importante de referências, pois ele não tem o hábito de ler constantemente, somente lê quando é relatado que há algo de bom. Ele lê um em especial, que relata ciências médicas, onde desmistifica o sensacionalismo desse tipo de pesquisa.

Clive aborda a história do Jornalismo Científico e compara com as dificuldades atuais. A Ciência surge bem definida nos jornais. Depois da Segunda Guerra Mundial com a criação de novas drogas, surgiram muitas oportunidades. Mas os pioneiros no jornalismo científico perderam a cobertura de vários eventos como o descobrimento de transistor e o DNA, pois não tinham uma empresa organizada de relações públicas, que fizesse o contato com as pessoas certas e pudessem produzir uma cobertura ao nível desses acontecimentos. Ao mesmo tempo Watson e Crick descobriam a dúpla hélice do DNA e novamente nada se divulgou. Hoje esses acontecimentos não passariam despercebidos na mídia. Quando a energia nuclear veio a tona, o lado negativista ficou evidente, todos viram como risco eminente, uma bomba prestes a explodir. Isso aconteceu com a Engenharia genética, que quando apareceu para o mundo perdeu sua credibilidade, pelo simples fato de que aquilo que foi publicado não foi realizado efetivamente. Podemos perceber que a história do Jornalismo Científico começou com falhas, e vemos que o desafio de atualmente é mudar e ultrapassar tais dificuldades.

Os cientistas estão ficando mais comunicativos, a mídia está com dificuldade com o crescimento da ciência no universo da internet e a possibilidade de disseminar com mais velocidade para o mundo. A mídia impressa na Europa e nos EUA tem que cortar custos, principalmente com a queda da venda do jornal impresso e acabam não financiando pesquisas. Porém mesmo com a queda na venda, a mídia impressa ainda é a fonte de conhecimento científico, com mais credibilidade e confiança, pelo tempo de trabalho que demanda cada cobertura científica de um jornalista de mídia impressa do que um jornalista que trabalha online.

Reportar Ciência lida com cinco principais dificuldades: Exagero e sensacionalismo, negatividade, jornalismo de campanha ou político, positivismo e objetivos sem viés político.

A Mídia exagera, porque há problemas operacionais, o problema não é a falta de verdade, mas sim a necessidade de se vender o jornal. O Jornalista tem que mostrar o que prometeu para o editor. Os donos de jornais desviam algumas notícias, ocorre assim um tendencionismo. Um exemplo claro disso é a mudança climática, quando começaram a se falar disso, muitos jornais e revistas omitiram o caso ou até mentiram informações, suavizando a situação favorecendo políticamente seus aliados. Nessa temática a posição do jornal era dado e poucos jornalistas que discordavam sobre isso era ouvido, confirmando o tendencionismo.

É importante que o cientista saiba fazer com a notícia para que chegue aos jornais de forma mais clara possível, ver como uma oportunidade de levar adiante suas idéias, se ele não o fizer os não-cientistas o farão e talvez distorça a verdadeira intenção da pesquisa.

É injusto quando os jornalistas falam que os cientistas não estão politizados, pois atualmente o cientista que não o for não se insere no mundo da comunicação. Outro fator importante para um jornalista é assumir as incertezas sobre a Ciência e passar a informação com essa caracteristica, de verdade não absoluta.

É importante também incluir as fontes da pesquisa na matéria, para que os leitores possam buscar mais informações a cerca do que foi escrito na matéria. Se for uma entrevista, falar do entrevistado, quanto tempo durou, a formação do entrevistado, entre outros.

É necessario também incluir novas pesquisas em uma matéria que seja relacionada a uma pesquisa em si, porque acrescenta o estudo e dá outras visões a cerca do que está sendo pesquisado. Para Clive, esse é um ponto em que muitos cientistas tem dificuldades, pois não querem assumir, muitas vezes, que existem outras pesquisas com o mesmo assunto sendo feito ao mesmo tempo que a dele, mas para a riqueza da matéria é importantíssimo, já que quanto mais fontes tiver, mais confiável vai ser sua matéria.

É importante distinguir o que é achado de pesquisa e o que realmente vai acontecer. Principalmente na área médica, quando se descreve uma cura, pode-se frustar o paciente que está a procura de um tratamento e por acaso lê sua matéria. É necessário distinguir em que estágio está a linha de pesquisa em questão, para não precipitar os fatos.

Em relação a fraude científica as agências de pesquisa e universidades devem tomar mais cuidado, e não cabe totalmente ao jornalista verificar isso, porém isso não quer dizer que ele não tenha que checar fontes e buscar mais referências.

Para matérias que transitam entre ciência e tecnologia, para Clive, são duas coisas diferentes que ao mesmo tempo se interligam. A cobertura de tecnologia é focada em negócios, está na mira de industrias e empresas e toda notícia é muito controlada pela empresa em questão, é muito dificil saber o que está sendo produzido pelas empresas, é muito mais fácil saber sobre os novos avanços da ciência.

Assim Clive Cookson termina sua palestra com muita perspectiva para o Jornalismo Científico, apesar de termos tantas dificuldades, com o estritamento da relação cientista e jornalista podemos perceber que essa dificuldade se dissolve em um meio próspero à cobertura de Ciência. Em seguida da palestra de Clive Cookson,foi apresentado o papel da televisão no jornalismo científico debatido por Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e pelo jornalista Roberto Wertman, editor do programa Espaço Aberto Ciência e Tecnologia, da Globonews. A mediação foi feita por Mônica Teixeira, coordenadora geral da Univesp TV.

Mônica Teixeira dá abertura à mesa redonda com uma pesquisa do Labjor sobre interesses dos brasileiros para o assunto ciência , abordado na midia. Ela destaca que 35% se declaram nada interessados ou pouco interessados e 65% se declaram interessados. Segundo ela, a pesquisa do Labjor aponta que os jornalistas em geral se encaixam no não interessados, ou seja, se incluem nos 35% de desinteressados, que além de assustor mostra também que eles se enquadram junto a uma parcela da população que mostra um nível menor de escolaridade, segundo a pesquisa. Para ela esse número é muito significativo e preocupante, já que são esses os jornalistas que cobrem a ciência no Brasil, poucos são da área da ciência e se dizem não interessados.

Roberto Wertman dá abertura ao debate, com a seguinte frase "se não tem imagem não existe matéria", como lidar com energia escura, células tronco, expansão do universo sem mostrar imagens relacionadas ao assunto? Para ele a TV está presa a esse tipo de concepção, e acaba limitando as matérias, porque não existe, as vezes, uma imagem de fato. Ai ele coloca outra pergunta pertinente, "Como se transforma a ciência em imagem?" Se uma matéria não tem uma imagem que diretamente remete ao assunto, pode-se explorar recursos, como a simples imaginação do editor de imagens e do jornalistas, ou fazer com que expectador chegue a imaginar como seria a imagem através de outras imagens análogas, assim cabe a cobertura da TV abordar o tema de forma criativa e inovadora, sem se limitar com imagens concretas.

Paulo Saldiva entra na discussão com a proposta de colocar o papel da TV na Ciência. Para ele a TV não é o melhor lugar para se divulgar ciência e sim para educar sobre ciência, ou seja, para mostrar a importância da ciência, como se faz ciência e despertar a vontade se ser um cientista. Para Paulo existem três maneiras de comportamento de cientistas para se distanciar o jornalismo da ciência e vice versa, um deles é a fala de difícil compreensão para um leigo, e isso faz com que poucos entendam o que se diz a pesquisa. Outra posição interessante é que o Jornalista quer uma certeza sobre o assunto, já o cientista lida com incertezas. E por fim a maioria dos jornalistas querem uma matéria militante, uma ciência com causa. Esses distanciamentos dificultam o diálogo entre jornalista e cientista.

Para Paulo, a cobertura de Ciência vai muito mais além do que o caderno de ciência, ou o programa de ciência na TV. Há uma tendência para assuntos gerais de que se tenha uma visão científica. O ser humano quer ter "certeza" do que se acontece e nada mais certo, para todos, do que confirmar através da Ciência. Então a tendência do mundo jornalistico é estreitar a relação cientista e jornalista.

Fernanda Leite de Alcântara, Jornal Biosferas, UNESP Rio Claro







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