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ED. ESPECIAL 2014: Divulgação Científica e Desenvolvimento Social




Divulgar ou divagar: uma reflexão sobre a Divulgação Científica no Ensino Médio

A expressão “divulgação científica” pode assumir, na contemporaneidade, variados olhares: um extenso e complexo conjunto de textos de cientistas para cientistas; jornalistas-divulgadores escrevendo para “leigos”; programas de TV narrando processos químico-biológicos ao telespectador sob consultoria de especialistas; enfim, a lista seria muito abrangente. Sendo assim, há também quem privilegie a atividade do professor de ciências em sala de aula como área de divulgação científica. E é daqui que parto.

Como professor de Física para o Ensino Médio, penso que uma das minhas missões seja a de divulgar ciência aos meus alunos e de, alguma maneira, impressioná-los a considerarem a hipótese de amá-la; talvez não a ponto de se tornarem profissionais dessa ciência, mas ao menos interessados em opinarem sobre ela.

Sendo assim, procuro incluir em minhas aulas discussões que envolvam a temática “Física do cotidiano”: questões que - muitas vezes - surjam dos próprios alunos na forma de curiosidades e que sempre se mostrem como oportunidades de se discutir a Física de maneira rica e profunda.

Para exemplificar melhor o lugar de onde falo, relato aqui uma das experiências vividas todos os anos nas turmas de 2º ano do Ensino Médio, a partir do conteúdo “Ótica Geométrica” (assunto que envolve a luz, formação de sombras, reflexo em espelhos e quando e como as cores se manifestam e se misturam). No início das aulas são apresentados os princípios fundamentais da ótica geométrica e não demora a surgir a recorrente - e antiga - sábia pergunta: “– Porque o céu é azul?”

Não respondo de imediato; antes, devolvo a pergunta para a turma, acrescentando outros fenômenos:

– Por que o céu é azul, mas no nascer e pôr-do-sol o céu ganha tonalidades avermelhadas?

Neste momento, observo a reação dos alunos buscando um raciocínio coerente capaz de explicar tais fenômenos. Ouço as conjecturas deles e “amarro” seus pensamentos a partir de demonstrações experimentais, que envolvem: aquários com água; fontes de luz de várias cores; prismas; anteparos opacos e translúcidos... Tal didática, em certa medida, tanto reproduz o fenômeno como explica outras situações a partir dele, como, por exemplo: a tonalidade do sol quando tentamos olhar para ele. Estas questões que são desencadeadas a partir de uma ideia central também são necessárias, pois, afinal de contas, a ciência envolve observar coisas que não podem ser vistas, como “ondas de luz” e “campos eletromagnéticos”.

A partir desta aula dialógica entre inferências dos alunos e os conceitos da Física, outros assuntos afloram: “– E os arco-íris? Como se formam?” Assim, o processo didático se repete: a pergunta é devolvida para a classe, sugerindo outros desafios, seguida de demonstrações que reproduzam o arco-íris.

Estas aulas, em geral, são concluídas levantando temas contemporâneos da ótica, contextualizando o conteúdo a assuntos relacionados ao interesse cotidiano do aluno, como a “transmissão de dados por fibra ótica”, por exemplo.

Não é raro encontrar com um deles pela escola e escutar os relatos de que os mesmos discutiram com amigos sobre a cor do céu, sobre o arco-íris, sobre miragens e outros temas demostrando, portanto, que se apropriaram dos conhecimentos a ponto de divulgarem-no aos seus pares.

O que quis exemplificar com este relato é que o processo de “ministrar aulas” é parecido, a meu ver, com o de “fazer ciência” em laboratório: tanto professor quanto cientista precisam dar/criar condições à informação científica de poder se tornar útil ao beneficiário da “descoberta” (seja ela feita em laboratório ou em sala de aula). A partir da apropriação e do entendimento do conceito científico, o receptor da informação passa a opinar sobre temas que envolvam a ciência do cotidiano.

Socialmente, talvez não haja função mais relevante para um professor: desconstruir para construir. Divulgar para melhorar. É isso.

Erman Naum da Silva; Professor de Física - Unasp







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