Ao ler um jornal, dar uma aula de biologia ou frequentar um evento científico sempre percebo que a questão do momento na sociedade brasileira é sobre a legalização da maconha. Falando dela, discutindo e lendo algo sobre o assunto sinto a urgência de escrever e questionar: o que a ciência diz sobre a famigerada Cannabis sativa?
Sabemos que a humanidade sempre fez uso de substâncias que alterassem os sentidos e percepções, temos como exemplos o álcool, os chás de cogumelos, os calmantes e os “frutos” proibidos (drogas) deste complexo jardim de promessas paradisíacas.
Tivemos também grandes movimentos, que os mais jovens talvez ignorem, mas que já abordaram amplamente a questão como o movimento Hippie dos anos 60-70.
Hoje, além do “barato” muito conhecido das drogas temos ainda a possibilidade do uso medicinal e sua liberação (com algumas ressalvas) em 18 estados dos Estados Unidos, Holanda, Espanha e Portugal. Diante disto podemos imediatamente pensar: o que estamos esperando para liberar a “erva”?
Ainda que o momento seja favorável e tenhamos muitos entusiastas na mídia e até na ciência a liberação da maconha não é uma questão simples, estamos falando de uma droga e quando o assunto é uma substância assim tão poderosa em nossa mente tudo se complica.
Para quem já tem uma certa idade, podemos lembrar que as campanhas publicitárias do cigarro sempre envolviam a saúde e o sucesso dos indivíduos e a realidade só foi mostrada ao grande público quando o “romance” com o tabaco se transformou numa tragédia com mortes, câncer, e muitos menores viciados e doentes.
A legalização no Brasil se transformou em proibição das propagandas, gastos públicos na saúde, campanhas caras e amplas contra o consumo e famílias carentes escolhendo entre o leite e o fumo (infelizmente o fumo ainda vem ganhando muitas vezes), e para piorar, mesmo sendo legalizado o contrabando e tráfico ainda são comuns.
Sendo assim, os apressadinhos de plantão já podem perceber que a legalização da Cannabis é um “déjà vu”, ainda preciso lembrar que a indústria do tabaco está em constante queda e a maconha seria um bom negócio.
Quanto à ciência, o que ela diz? As notícias não são boas para a Cannabis sativa. Uma série de estudos têm demonstrado que a maconha causa sérios danos ao cérebro, que ao invés de curar ela pode promover a esquizofrenia e que a relação entre a maconha e epilepsia não está absolutamente clara e confirmada, ou seja, a ciência mostra que nosso “fruto” proibido não traz nenhum paraíso e tão pouco, tranquilidade.
Uma série de artigos da revista Scientific American Brasil, edição de setembro (2014) edição especial saúde de outubro (novembro 2013) e edição Mente e cérebro de agosto (2014) mostram pela frequência e exposição- todas as matérias de capa das revistas- a preocupação da ciência com o assunto, só para citar um exemplo.
Portanto, o “barato” da maconha pode sair caro e mesmo o uso medicinal deve ser criteriosamente estudado para que o sonho de melhores medicamentos não se transforme num pesadelo ou alucinação!