A descoberta do vírus HIV ocorreu em 1983, dois anos após o reconhecimento
da AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), contribuindo de maneira
importante para desenvolvimento de testes, diagnósticos e medicamentos
visando o combate da doença e seus malefícios. Deste então, foi possível
reconhecer a transmissão da doença por transfusões sanguíneas e seus derivados,
possibilitando a diminuição de infectados acidentais com a HIV. A descoberta
também possibilitou a criação de políticas e normas nacionais para prevenção
da doença e estratégias para o desenvolvimento de novas classes de antirretrovirais
(medicamentos que atuam no ciclo de vida do vírus).
Os descobridores do vírus, Drs. BarraSinoussi e Montagnier, isolaram-no
de linfonodos de pacientes com uma linfoadenopatia (os gânglios superficiais,
normalmente só perceptíveis por meio de palpação, tornam-se mais evidentes
quando aumentam de volume) característica em um estágio inicial de uma
imunodeficiência que começava a surgir no início da década de 80, tais
estudos foram realizados no Instituto Pasteur em 1983. Já em 1984, os mesmos
pesquisadores haviam isolado diferentes amostras do HIV de pacientes hemofílicos,
receptores de transfusões sanguíneas, recém-nascidos de mães soropositivas
e pacientes infectados pela via sexual.
A doença se tornou epidêmica, sofrendo grandes avanços no desenvolvimento
de novos medicamentos que mobilizaram uma falsa sensação de segurança,
entretanto a doença continua sendo um problema de saúde mundial. Segundo
a Organização Mundial de Saúde, atualmente existem 42 milhões de pessoas
infectadas pelo vírus HIV, 95% das quais vivem em países pobres ou em desenvolvimento.
A própria OMS estima que, no Brasil, das 600 mil pessoas infectadas apenas
200 mil saibam que são portadoras do vírus. As outras 400 mil, desconhecendo
sua situação, estariam mantendo relações sexuais desprotegidas e dividindo
agulhas com usuários de drogas injetáveis.
Como é contatável, a magnitude do problema ainda está fora de ser
apenas mais uma doença nas cartilhas de saúde pública, sendo imprescindível
o desenvolvimento de tecnologia imunológica com a criação de vacinas e
medicamentos preventivos que possam controlar a pandemia do HIV, tecnologia
que nesses 30 anos de descoberta do vírus ainda não fomos capazes de desenvolver.
Texto baseado no artigo: "THE RECOGNITION OF HUMAN IMMUNODEFICIENCY VIRUS (HIV)
DISCOVERY". DESCOBERTA DO HIV: O RECONHECIMENTO. Luciano Zubaran Goldani.
Rev HCPA 2008;28(3):205-6. Departamento de Medicina Interna, Faculdade
de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.